quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Um novo começo 10

Capítulo 10

Ao decidir-se por ir em direção a Gui e deixar a verdade aparecer de uma vez para que toda a escola, Ronnie, Gui e quem quer que estivesse ali pudesse ver, ela sabia que sairia machucada daquilo, mas era melhor que fosse sincera, pelo menos nisso...
Quando deu o primeiro passo batendo o salto do sapato boneca no chão, recebeu um empurrão leve que a fez parar naquele momento enquanto passava por ela as tranças loiras cuja nunca esqueceria. Era Hellen.
- Gui! Gritou Hellen enquanto corria em direção a Gui, roubando também a atenção de Ronnie por um breve segundo.
Era o que Joan precisava. Num ato furtivo, virou-se e escondeu o rosto. Com sua visão periférica conseguiu ver Gui sendo puxado por Hellen para a saída do colégio enquanto Ronnie achava a situação engraçada. Neste momento, Ronnie vira-se para ela. Não tinha mais o que esconder. O coração dela disparava. Ao mesmo tempo em que sentia raiva de Hellen por aquela atitude mesquinha, Joan a agradecia por tirar Gui dali. E estava tensa querendo que Gui não a visse com Ronnie. Gui, mesmo sendo puxado as pressas ainda olhava para trás caçando o olhar de Joan.
- Você viu isso, Joan? Falou Laura atônita.
- Vi. Disse Joan séria.
- Você não vai fazer nada? Perguntou Laura.
- Tenho problemas maiores para cuidar... Disse isso ao perceber que Ronnie vinha em sua direção enquanto Gui olhava incessantemente para trás. Não queria que ele a visse com Ronnie, mas também não suportava a idéia de ver Gui com Hellen.
Neste momento Ronnie chega de sopetão e dá um forte abraço em Joan, um abraço que quase a tira do chão. Joan estremece.
- Joan, adorei essa escola, esse uniforme, gostei de tudo. Vou curtir muito estudar aqui. Fala Ronnie com seu jeito espalhafatoso.
Os olhos de Joan, por cima dos ombros de Ronnie, estão mirados em outro lugar. Gui e Hellen encostados em uma das arvores da rua. Gui, ao engolir seco o abraço de Ronnie, faz uma expressão insatisfeita. Hellen aproveita a distração e lhe dá um suculento beijo que é logo correspondido.
As palavras de Ronnie em seu ouvido não passam de grego, enquanto ela vê seu novo amor voando para longe de si, ao lado de uma garota loira de tranças. Ele a solta, colocando-a no chão. Ela faz o possível para disfarçar a decepção enquanto atua na frente de Laura e Ronnie.
- Você nem apresenta suas amigas Joan... Diz Ronnie olhando para Laura.
- Esta é Laura. Laura este é... Um amigo... Ronnie.
- Prazer. Diz Laura, sem entender nada. Eu já vou. Até amanhã Joan.
- Até...
Naquele momento, Joan sai da escola decepcionada.
- Nossa! Essa escola é enorme! Tem piscina, quadras, sala de música, arte... Eu vou curtir muito isso aqui. Ronnie comenta muito empolgado.
- Quem te deixou vir aqui? Diz Joan muito brava.
- Qual o problema? Eu não ia fazer nada.
- Não ia? Você já fez, destruiu minha vida social! Diz Joan, chorando e gritando.
- Mas... Desculpe Joan. Seja lá o que eu tenha feito, perdoe-me. Diz Ronnie, com o coração sincero.
- É melhor você ficar quieto Ronnie. Não fale mais comigo.
Ronnie abaixa a cabeça e acompanha Joan até em casa, sentindo um culpa que na verdade não existia.
Chegou em sua casa, colocou almoço para Tales, subiu e deitou em sua cama, chorando com o rosto colado no seu travesseiro.
“Gui, por que, tão perto, tão longe... Eu sabia que não deveria me apaixonar de novo... Aconteceu de novo. Eu acreditei, e quando menos esperei... fui apunhalada, pela minha própria indecisão.” Lembrou-se do que havia acontecido na fazenda, no dia em que Ronnie a cometeu a pior traição de sua vida.
Uma semana após sua avó ter morrido, avó que era praticamente sua mãe, Joan já encontrava-se trancada em seu quarto há cinco dias. Nem teve forças para freqüentar as aulas e deixou Ronnie, o grande amor da sua vida, de lado. Não queria ver e nem falar com ninguém.
Ludmilla, sua melhor amiga na época, uma garota de pele branca, sardas, longos cabelos ruivos, tentou visitá-la durante sua reclusão.
- Joan, Joan querida, abra a porta por favor... Disse Ludmilla batendo na porta ansiosamente.
Ludmilla, com o rosto colado a porta trajava um xale de crochê, uma saia rodada e longa e uma blusa de botões. No cabelo, uma rosa de crochê, que Joan adorava pedir emprestado.
Joan, sentada sobre sua cama, trajando o seu pijama rosa e segurando em suas mãos o pingente do colar que tanto gostava, ouvia as palavras de sua amiga sem esboçar reação.
- É melhor voltar outra hora... Disse uma das tias de Joan que morava no casarão de sua avó.
- É... Disse Lud decepcionada.
Ninguém compreendera na época a falta que Vovó fazia na vida de Joan. Ela era a neta mais próxima, mais paparicada. Sempre trazia em seu peito o pingente que ganhou de sua avó. Nunca comprovaram se era ou não uma pedra preciosa. Era a única neta a ter um quarto no casarão. Talvez porque seus pais trabalhassem na cidade e só estivessem em casa nos fins de semana. A família preferia entregar-se a ciumeira e criticar a criação que Vovó dava a Joan.
- Joan, tem telefone para você. É o Ronnie. Fala tia Flora atrás da porta.
- Pede pra ele ligar depois, por favor.
- Tá...
Naquela mesma noite ela resolveu sair do quarto. Descendo em passos leves para a cozinha, ela ouve que suas tias falavam dela.
- A Joan, ficou muito abalada com a morte de Mamãe. Disse tia Flora, com quem Joan simpatizava mais.
- É, mas isso foi porque minha mãe acostumou ela muito mal. Ficava mimando a garota, dando o que ela queria... Ela tinha mãe e pai para criá-la! Disse tia Malva, que era quem mais a criticava.
- Até entendo Mamãe... Queria que toda família ficasse unida até que sua morte chegasse... Disse tia Polônia. Uma tia mais reclusa, não morava no casarão, mas estava sempre próxima para ajudar. Ela sabia da doença degenerativa de sua avó.
- Eu também entendo Polly... tia Flora fala em tom compreensivo.
- Ah, no fundo vocês pensam o mesmo que eu. Só que tem vergonha de falar. Tia Malva retrucou.
Joan, naquele momento tomou a decisão de sair de vez da casa de sua avó. Ela não estava mais lá, não havia nada que a prendesse. Tomou um banho, escolheu a melhor roupa limpa e passada que tinha para ver Ronnie. Até sabia onde ele estava naquele dia. Sexta, às dez da noite, só poderia estar na praça da cidadela.
Pegou seu vestido rippie branco, colocou uma tiara branca e uma sandália rasteira, que sua mãe tinha trazido da cidade.
Precisava de um daqueles abraços apertados de Ronnie. Precisava chorar no ombro de alguém. Esperava também esbarrar com Ludmilla e contar-lhe tudo que estava passando... Alugar novamente a amiga com suas histórias...
Pegou sua bicicleta rosa e pedalou pela cidadela respirando o ar puro que há dias não sentia tocar em seu rosto. Traçou todo um planejamento sobre sua vida, seu futuro, e ousou até mesmo a pensar no seu casamento com Ronnie! Era um sonho tolo, gostoso de viver. Imaginou as damas de honra, os enfeites do salão de festas, os convidados chegando... Quando desceu da bicicleta, diante do tráfego de pessoas na praça e a levou ao seu lado.
Precisava encontrar Ronnie. Foi até a barraca que ele mais gostava, que era a de maçã do amor. Foi batata! Lá estava ele. De quebra encontrou também sua amiga Ludmilla. Os dois andando juntos abraçados e dividindo a mesma maçã do amor. E eis que antes que a mente de Joan esboçasse uma reação, eles beijam-se na frente de todos na praça, sem medo nenhum de serem vistos.
O mundo de Joan desabou novamente.
- Que porcaria é essa Ronnie? Gritou Joan incitando o barraco.
- Joan, eu posso explicar, naquele dia que eu fui à sua casa eu... Intrometeu-se Lud.
- Cale a boca sua cachorra desgraçada!
- Joan, eu tentei ligar pra você a semana toda, você não me atendeu... Nem quis que eu te visitasse...
- Ah! Mas não havíamos terminado ainda! Será que você não entende o que eu passei? Minha vó tinha acabado de morrer...
- Acabado? Já faz uma semana que... Ronnie tenta emendar.
- Você não sabe o que é Luto? Você nunca amou ninguém de verdade?
- Eu amo ainda, você...
- Com essa prova que você acaba de me dar?
- Joan eu pretendia te contar, Ronnie também, tanto que tentamos falar com você vários dias, mas você não atendia. Ludmilla intervém desesperada.
- Se fosse minha amiga mesmo não teria feito isso.
- Joan, me perdoe. Eu não queria fazer isso. Aconteceu.
- Se realmente não quisesse, não teria feito. Agora que vovó me deixou, não há nada que me prenda a este lugar.
Ronnie e Ludmilla baixam a cabeça.
Joan monta na bicicleta e só não é atropelada por milagre.
Chega em casa e comunica o fim de namoro aos seus pais, que acabavam de chegar a cidade. Apesar da decepção deles pelo fim do relacionamento, por adorarem Ronnie, eles resolvem não dar nenhum palpite.
- Mãe, assim que vocês forem se mudar, vou junto. Dessa vez é definitivo.
Tales, seu irmão menor que fica na casa da cidade com seus pais, chega correndo e abraça Joan.
- Você tava chorando?
- Tava não Tales. Mãe, não precisa preparar meu jantar. Não vou conseguir comer mesmo.
Depois de uma semana preparando os trâmites da viagem, Joan se muda deixando a cidadezinha para sempre.

sábado, 21 de novembro de 2009

Um novo começo 9

Capitulo 9

- Aahh! Joan gritava enquanto acordava de outro pesadelo. Desta vez, sonhou que seu amor por Gui estava ameaçado, pois ele havia sido trancado numa caixa de vidro e não poderia se comunicar com ela. Após uma tentativa frustrada de beijá-lo, ela acorda sufocada, respirando fundo.
Ao beber uma garrafa inteira de água gelada na cozinha, ela se lembra aos poucos do acontecido da noite anterior. Havia tido uma séria discussão com sua mãe após ela ter matriculado Ronnie em sua escola sem avisá-la. Sua mãe ignorava o fato de que, um dos motivos para ela ter concordado vir para a cidade, era afastar-se de Ronnie. Ainda se lembrava de alguns trechos da discussão:
- Joan, tira isso da sua cabeça. Alenne falava de pé, com a postura ereta que ela costumava ostentar. O Ronnie iria vir pra cá de qualquer jeito. Já estava combinado com os pais dele antes da gente se mudar. Só não te contamos porque...
-Porque você tinha certeza que eu não concordaria com isso né?
- Não é isso... Você estava muito fragilizada por conta da sua vó... Seu pai fala em tom terno.
- De qualquer forma, quem toma as decisões nessa casa não é você. Gritou sua mãe.
Neste momento, Joan vê que qualquer esforço seu será em vão. Seu ex-namorado que tanto a fez sofrer, está de volta, debaixo de seu teto e, o que é pior, de volta a sua vida.
Coloca o copo na pia enquanto anda pelo escuro procurando a escada que vai para seu quarto. Ao subir, ela sente um empurrão que quase a derruba no chão.
- Ah me desculpe.
-Tinha que ser você Ronnie. Fala Joan, irritada.
- Eu só estava descendo pra beber água. Está muito quente hoje e não consigo dormir.
- Eu sei. Mas eu preciso ir deitar. Logo estarei de pé de novo. O horário do Castelo é muito puxado.
- Espere. Diz ele pegando-a pelo braço. Tenho que te dizer uma coisa.
- Aff... Tente que ser rápido, por favor.
- É que eu... Na verdade eu não queria vir pra cá. Foram meus pais que me obrigaram a sair da fazenda. Desculpe-me se estou causando todo esse transtorno para ti. Disse ele com aquele sotaque carregado.
- Hum. Consente Joan, com expressão entediada, olhando para o lado. Agora pode soltar meu braço? Preciso durmir.
Ele alisa o braço mais carinhosamente.
- Mas... Não vou negar... A idéia de te ver de novo, me deixou muito feliz...
- Solta meu braço. Diz ela em um tom ríspido.
- Tá. Vou beber água. Boa noite.
Ela sobe em passos pesados. Se ela tivesse poder de lançar um raio sobre ele, com certeza, com o ódio que havia em seu coração, o raio se tornaria uma enorme tempestade devastadora.
Ao cobrir-se com o lençol e deixar entreaberta a janela para que o ar se renovasse, lembrou-se do momento em que Gui disse ter se lembrado do beijo na piscina. E indo mais longe ainda, sentia o gosto do lábio de Gui misturado ao sabor do cloro da piscina. Era o beijo mais saboroso de sua vida. As mãos de Gui, ásperas, sinceras, grossas, fortes, nem se comparavam aos toques de Ronnie. Joan se inebriava ao lembrar-se de Gui trajando aquele uniforme de almofadinha. O bordado em cima do peito, a mochila de carteiro, o cabelo negro, de lado, ainda com cheiro de cloro, um liso natural sem muito cuidado, no qual sua mão poderia perder-se infinitamente. No meio daqueles doces pensamentos dormiu, como que um anjo.
Chegou à sala de aula um verdadeiro bagaço. Não dormiu nada aquela noite. A hora que pegou no sono foi um pouco antes do despertador começar a tocar as músicas do rádio relógio. Logo no dia em que estrearia o uniforme novo, estava sem glamour algum. Cabelo preso em rabo de cavalo médio com uma franja caindo na frente de um dos olhos, maquiagem um pouco pesada para cobrir as olheiras, um batom um pouco mais forte que o habitual, e sono, muito sono.
- Joan, Joan, não durma na aula, a professora vai dar uma advertência a você se ficar assim. Laura falou ao ouvido de Joan para que ela retomasse a postura na cadeira.
- Ai ai... Se ela só ficar falando aí complica... Não sou fã de monólogos. Diz Joan, um pouco sonolenta e desajeitada.
- Fale baixo Joan, senão ela pode ouvir.
- Ah... Tá bom. Depois você me passa todas as anotações. Vou puxar um ronco. Diz Joan repousando sobre a carteira, enquanto a professora vem em sua direção.
- Acorde Joan, acorde, a professora está vindo! Sussurrava Laura.
- Joan, o que está acontecendo aqui? Foi pra balada é? Sua cara não é das melhores, parece que virou a noite na rua. Diz a professora cutucando Joan.
- Ah! Professora Melissa desculpe. Foi sem querer.
- É melhor que tenha sido mesmo. Se acontecer de novo, você vai pra direção. Agora desça e vá lavar este rosto. E tire esta maquiagem, está toda borrada.
Toda sala ri enquanto ela se levanta. Laura olha pra ela chateada. Pede pra acompanhá-la até o banheiro. Pega sua nécessaire na mochila e desce, seguindo a amiga.
Gui, no canto da sala, olha para ela, preocupada.
- Eu avisei... Você deveria pelo menos tentar ficar acordada... Seria melhor. Aconteceu alguma coisa que pudesse deixá-la chateada?
- Não... Joan mente, omitindo os fatos do dia anterior. Não quer que sua amiga saiba de Ronnie. Foi pura insônia.
- Acontece né. Aposto que ficou pensando no beijo da piscina. Disse Laura em alto som.
- Fale baixo! Você quer que alguém nos ouça? Disse Joan enquanto Laura passava o removedor de maquiagem no seu rosto.
- Mas me fale. Como foi o encontro de vocês?
- Se é que pode se chamar aquilo de encontro...
- Ah, mas não aconteceu nada?
- Conheci a tia dele e almoçamos na casa dele. Não pude ficar, tive que buscar Tales na escola.
- Mas e o beijo? Cadê? Perguntou Laura enquanto escolhia um tom de base para o rosto de Joan.
- Eu... Fiquei nervosa e não consegui... Sai correndo que nem uma louca!
- haahuehauhauahua! As duas riem da situação.
- Não pensei que fosse tão medrosa. Diz Laura com um riso no canto dos lábios.
- Ah Laura, poupe-me. Aposto como você nunca se apaixonou.
- Pior que sim.
- Hã? Diz Joan estarrecida.
- E o pior é que eu continuo apaixonada. Diz Laura sussurrando enquanto termina o trabalho de reconstrução no rosto de Joan.
- Quem é o gato pra eu poder te ajudar? Joan fala, empolgada.
- Ah... É o... Olha no espelho como você ficou, vê se você gosta.Diz Laura, despistando.
- Ta lindo, obrigada.
- De nada amiga, agora acho que é melhor que voltemos pra sala, antes que sintam nossa falta. E o Gui? Vai te esperar hoje?
- Ainda nem falei com ele... Espero que ele esteja lá, pelo menos pra eu dar um oi pra ele... Mas não me enrola e me mostra no intervalo quem é seu gato.
Elas saem do banheiro, voltando pra sala logo em seguida.
No intervalo, acaba nem vendo Gui. Só de relance, por um momento ele passa pelo pátio com uma pilha de papéis. Provavelmente pra gráfica da escola, onde é impresso o jornal.
O tempo voa e o sinal de ir embora toca.
- Joan, até amanhã. Olha ali o Gui está te esperando. Diz Laura apontando para o portão da escola. Gui aparece encostado no muro lendo um pequeno panfleto. Enquanto chega um outro cara e se encosta no muro, ao lado de Gui.
Joan tem uma visão dos infernos: Aqueles cabelos loiros e lisos se movimentando como um leque e aqueles olhos verdes não poderiam ser de outra pessoa. O cara que se encosta ao lado de Gui é Ronnie, que provavelmente foi à escola para xeretar sua vida! Sem saber que passo dar ela fica ali parada, sem reação, enquanto sua amiga Laura, sem entender a reação da amiga, fica ali tentando compreender o que está acontecendo.

sábado, 21 de março de 2009

Um novo começo 8

Capítulo 8

Joan, ainda com os cabelos molhados, pensava no que havia acontecido. Um beijo inesperado, de uma forma que ela jamais poderia imaginar. Na verdade, ainda pairavam duvidas no ar. Se Gui realmente correspondeu ao beijo ou apenas tentava salvar sua vida. O que tinha certeza é que seu corpo agiu instintivamente, percebendo que Gui a beijava, apenas correspondeu, mostrando o quanto o amava.

- Você estava fingindo Joan? Chega Laura de sopetão.

- Fingindo o quê?

- Fingindo que se afogou...

- Que pergunta idiota Laura! Não está vendo que quase morri ainda pouco?

- Ah, não é isto que seu rosto diz...

- É? E o que o meu rosto diz?

- Que foi um beijo, e você aproveitou cada segundo dele.

- Laura, não foi de propósito o que aconteceu. Aquele idiota do Carlos puxou mesmo a minha perna e eu, desacostumada a algum tempo a nadar, acabei perdendo o fôlego.

- Ah. Desculpe Joan, eu precisava ouvir da sua boa.

- Poxa pensei que você acreditasse mais em mim.

- Não é isso. É que ta rolando um boato ai que você se afogou de propósito só pra ser beijada pelo Gui.

- Aposto como certa pessoa tem dedo nessa história. - Dizia Joan referindo-se a Helen - Mas Laura, você deveria me ouvir primeiro, antes de ouvir os outros. Se diz que é minha amiga, tem que ser amiga na prática também.

- Ah desculpe, vamos deixar isso pra lá? Prometo que não vou dar ouvidos a esses boatos. Diz Laura para fazer as pazes de novo.

- É, até porque se você quer me ajudar, vou ter q confiar em você e se você ficar agindo assim, vai ser difícil.

- Tranquila agora?

- Ok. Mas Laura... Vou confessar uma coisa. Quando senti que ele tava me beijando, o desejo falou mais alto e eu respondi de forma instintiva.

- Já imaginei pelo seu rosto. Hehe!

- Mas ainda tenho minhas dúvidas... Tenho medo de confessar o que sinto. Ele pode me achar uma idiota, porque nem conheço ele! Ele ainda parece preso a alguma coisa.

- Parece que não é só o Gui que tem passado... Diz Laura jogando um verde.

- Ah! Passado é passado, o que importa é o presente agora. Joan despista.

Joan e Laura seguiam para a saída da escola enquanto conversavam.

- Espero que você esteja certa, olha quem está te esperando.

Gui a esperava encostado no portão da saída com uma expressão obscura.

Ele a olhou com um olhar apreensivo e apontou para o relógio.

“Não sei...” Pensou enquanto olhava para Laura, transparecendo a dúvida que havia em seu coração. Laura olhou-a como que respondendo “Vai! Tente!”. Joan sorri e responde com um olhar positivo, fechando e abrindo rapidamente, como uma confirmação.

- Até amanhã. Disse Joan a Laura, despedindo-se dela.

Laura apenas sorriu. E disse com os labios “Boa sorte”.

O pequeno momento que seguia em direção a Gui, durou uma eternidade para Joan. A breve brisa que soprava folhas secas em seu cabelo era como que um obstáculo entre ela e sua paixão. Pensava se Gui iria apenas desfazer o mal entendido na natação, se iria contar que voltou para Helen, se iria se declarar, ou dizer que não está interessado nela, ou falar se era só amizade, ou se a pediria em namoro, ou se pediria outro beijo...

Em outro lugar da cidade, exatamente no aeroporto, um garoto loiro dos cabelos longos um pouco abaixo dos ombros, alto, olhos verdes, chegava com suas malas, vestindo uma calça jeans e um moletom xadrez, chegou a uma das saídas enquanto chegava um taxi, fazia uma ligação.

- Alenne?

- Já chegou Ronnie?

- Sim, pensei que você me buscaria, mas pelo que vejo você está ocupada. Esqueci que você estava trabalhando sogrinha.

- Ah, eu fiz de tudo para sair daqui mas não deu. Pega um táxi e segue todas as indicações que vou te passar. É só tu falar a ele que você consegue chegar aqui sem problemas. Tem caneta ai?

- Tenho.

- Então anota. Joan vai ficar muito feliz em te ver. Aquela boba...

- Hehe! Passa aí o endereço.

Emquanto ele anota o endereço, Joan sequer se lembra da existência de Ronie ao lado de Gui.

- Gostaria de te convidar para dar uma volta.

- Gui, eu não posso chegar muito tarde em casa. Tenho que cuidar do meu irmão enquanto minha mãe está trabalhando.

- É rápido.

- Se você diz...

Andaram rua afora, sem puxar assunto. No fundo, Joan ainda estava tímida por causa dos acontecidos. Só queria ter uma chance para pedir desculpas, por ter causado tanta preocupação.

- Gui eu...

- Fale.

- Eu queria te pedir desculpas pelo que aconteceu hoje cedo. Não queria que parecesse o que...

- Parecer o quê? Ah! Parecer que você tinha se afogado é isso?

- Não é isso. Responde Joan desapontada.

- É o que então?

- Ah deixa, é que eu pensei que você...

- Que eu o quê?

- Nada.

- Ah. Agora vai falar... Disse Gui meio que impondo, com um sorriso sarcástico na boca.

- Não quero falar. E eu que tava alimentando esperanças...

- Esperanças de que? Não estou entendendo você hoje. Parece que depois que se afogou ficou meio louca, não fala coisa com coisa!

- E você depois que me salvou parece que ficou um grosso nogento! Deixa pra lá, eu vou embora.

- Espera! Diz ele agarrando-a pelo braço. Eu te chamei aqui porque queria falar com você.

- Então fala logo. Estou com pressa.

- Queria te convidar para ir a minha casa. É perto daqui. É só para almoçar comigo, minha tia está lá e faz comidas muito gostosas. Aí pensei em chamar você. Disse ele com uma expressão totalmente diferente da anterior. O rostinho que Joan tanto gostava.

- Tudo bem. Disse Joan meio contrariada. Mas não pense que pode me tratar assim.

- Assim como? É você que não fala coisa com coisa...

- Ah não começa antes que eu desista.

- Ok. Já chegamos.

Estavam em frente a uma casa bonita, apesar de simples. Um muro forrado com aqueles arbustos e um portão de madeira com toldo de telha. Entraram. O pátio era composto por um pequeno jardim, florido naquela época do ano, uma pequena área gramada e uma bela varanda com uma rede. A tia dele atendeu-a graciosamente.

- Este colar é muito bonito, disse a tia de Gui.

- Foi um presente de minha avó. A pedra foi encontrada em sua fazenda e ela resolveu me presentear.

- De muito bom gosto. Disse a tia, uma mulher jovem que aparentava um pouco mais de vinte anos.

- Tia Kat, e o rango? Já ta pronto?

- Ah calma aê. Vai tirar o sapato pelo menos enquanto eu preparo os pratos.

- Ok.

- Sente-se Joan, vou preparar o seu lugar a mesa. Vejo que veio para comer, o Gui deve ter feito uma grande propaganda minha pra você. Disse ela com um sorriso terno.

- Ah, acredite, só vim aqui por sua causa. Disse Joan. “ Porque esse Gui é um idiota!” pensou ela.

Enquanto Kat estava na cozinha, Joan estava a mesa, sentada ao lado de Gui esperando o almoço.

- Você mora com sua tia?

- Sim. É que meus pais estão viajando a trabalho.

- Nossa, que chique!

- Minha tia Kat é a esposa do meu tio que trabalha na escola.

- É mesmo? Até que eles combinam, os dois são bonitos.

- Pois é. A beleza é de família. Disse ele com um sorriso pretensioso nos lábios.

- Haha. Grande piada.

- Piada porque? Você não me acha bonito?

- Talvez se você fosse mais humilde...

- Então quer dizer que você acha?

- Para. Eu não falei isso. Você que fica colocando palavras na minha boca.

- Ah, foi você que disse. Apenas não falou da boca pra fora.

Um cheiro maravilhoso vinha da cozinha. Era lasanha. Isso os aquietou um pouco.

- Nossa, agora lembrei o quanto estou com fome. Resmungou Gui.

- É, eu também.

- Pois não parece, fica aí arranjando motivo pra ficar discutindo...

- E você com essas piadas sem graça?

- É que eu estou delirando por causa da fome...

- Sei...

Chega Kat com a travessa de lasanha.

- De queijo e presunto como você gosta Gui.

- Tia, você é maravilhosa.

- Agora sou né? Só na hora da comida.

Lembou-se da lasanha do dia anterior, em sua casa. Era seu prato favorito, e pelo jeito o de Gui também. Devorava a sua como um animal. Por mais que Gui a tratasse daquele jeito, não conseguia odiá-lo. Era um cara que parecia ser superficial, e dava todos os sinais de ser. Pensou por um momento, talvez, que fosse um príncipe encantado, no momento em que ela era a bela adormecida e ele a despertou com um beijo. Mas parece que o beijo o transformou num sapo, um sapo belíssimo ainda assim sapo.

- Estou satisfeita. Falou Joan, enquanto Gui e Kat terminavam de comer. Onde é o banheiro?

- Naquela porta. Disse Gui apontando a direção.

- Ok. Obrigada.

Entrou, conferiu os dentes, lavou a boca pois estava sem escova para escovar os dentes ali e saiu.

- Já vou. Já está tarde. Daqui a pouco vou buscar meu irmãozinho na escola.

- Quer que eu te leve de carro querida? Diz Kat.

- Não quero incomodar. Vou andando. A escola dele é perto daqui.

- Vou te levar até a porta. Se prontifica Gui.

Gui a leva até a porta.

- E aí? Não disse que minha tia arrasa?

- É. Quando eu engordar vou mandar a conta do meu spa pra vocês.

- Faço questão de pagar se você almoçar todo dia aqui. Diz Gui com um sorriso maroto no rosto.

- Se todo dia for lazanha...

- Ah, aí também não dá! A gente é pobre esqueceu? A propósito.

- A propósito o que? Responde Joan meio impaciente.

- Eu gostei muito.

- Da lasanha?

- Não, do beijo.

Joan fica muda de repente.

- Ou você pensa que não percebi?

- Não sei do que você está falando. Desconversa ela.

- Pensa que eu não senti o seu lábio mexendo naquela hora?

- Ah! Isso acontece. Eu nem percebi. Deve ter sido inconsciente.

- Mas eu gostaria de repetir. Agora conscientemente.

- Está tarde. Tenho que ir. E você para de besteira. Diz Joan colocando um tom de brava mas por dentro mais feliz do que nunca.

- Pensa nisso! Grita ele enquanto Joan sai correndo em direção a outra rua.

Joan parou para colocar os pensamentos no lugar. Gui primeiro ficou de graça, enrolando até fazer ela ir a casa dele. Fez ela comer pacas, apresentou-a a tia que é quase uma mãe, e depois ainda diz que se lembrou do beijo? No fim das contas esteve o tempo todo jogando o jogo dele. Ele pode não ser um príncipe encantado mas é um sapo bem esperto.

- Ele é esperto... Diz ela enquanto abre a porta de casa. Tales entra correndo como um louco para a cozinha. Escuta vozes na cozinha, provavelmente a mãe chegou mais cedo.

- Irmãozão! Gritou Tales na cozinha.

- Não! Grita Joan para si mesma. Só havia uma pessoa que Tales chamava de irmãozão. Era seu ex.

- Oi cunhadinho! Tava com saudades, vamos pintar o sete agora que eu cheguei.

Olhou a cozinha. Lá estava ele, um pouco diferente. Cabelos longos, mais do que ela havia deixado. Os olhos e o porte físico continuam o mesmo. Uma beleza que não a impressionava, já que ela sabia a pessoa que havia por dentro daquela escultura.

- Oi, Joan. Estava com saudades. Diz ele meio que emocionado.

- Oi. Diz ela seca enquanto é abraçada por ele.

- Tenho muito o que fazer. Tenho que me matricular na sua escola, não posso parar os estudos. Sua mãe disse que a sua escola é ótima. Por isso vim para cá. Quero me preparar bem para ir para a faculdade. Vou fazer agronomia para ajudar meu pai no plantio. Mas para isso preciso me preparar. Joan, tá ouvindo?

- Há tantas escolas boas aqui, porque precisa ser justamente na minha que você vai estudar.

- Eu não tenho nada haver com isso. Foi a Alenne que me indicou. Meus pais concordaram e eu estou aqui. Prometo que não vou incomodar.

Joan o conhecia. Ele era assim, inconveniente. Onde pudesse estar para se aproximar dela, ele estaria. Sabia o quanto ele empataria o caso dela com Gui. Principalmente agora, que eles estavam sabendo que tinham “afinidades”.

- Vou ter uma conversa séria com minha mãe. Joan fala, encerrando o assunto e subindo para o quarto.

Um novo começo 7

Capítulo 7

“ Ah! Natação! Até isso eles ensinam aqui!” Pensava Joan enquanto seguia para a quadra poli esportiva do colégio. Pensava no que iria dizer a professora, afinal, não havia comprado o maiô e não sabia que teria aula de natação naquele dia.

Laura estava ao seu lado, andava olhando para a frente, mas, de vez em quando, olhava para Joan dando um sorriso.

- Laura, o que eu faço? Não tenho o maiô para aula...

- Eu tenho um reserva aqui na bolsa, está limpo... quer usar?

- Quero sim, obrigada...

Entraram no vestiário para fazer a troca de roupas. Perceberam que vestiam o mesmo número, mesmo Joan sendo mais alta. Apesar de terem se conhecido em pouco tempo, Laura se mostrava uma pessoa muito tranqüila, mas Joan não sabia se podia confiar nela. A amizade delas estava ainda no início, por isso Joan não queria se precipitar e falar demais. Já havia confessado sua paixão secreta a ela, o que já era algo muito íntimo e que poderia compromete-la, ainda mais com o pedido de Hellen... Outra pessoa que chegou pedindo algo muito difícil, colocar sua pequena paixão nos braços de outra, por quem não tinha nenhum conceito.

Laura percebe o fitar de Joan e sorri, ligeiramente dizendo:

- Está quase na hora... Logo a treinadora Ângela vai entrar aqui gritando e apitando que nem uma louca.

- Haha. Joan ri, singelamente.

Do outro lado chegam outras garotas, que não são da classe de Joan. Uma delas com um cabelo louro muito particular. Era Hellen, que chega com um grupo de quatro garotas rindo e passando para a outra ala de chuveiros. Parece que sua aula havia acabado.

- Olhe Laura, aquelas garotas.

- Sim, uma delas é a sua rival... Diz Laura com um brilho nos olhos.

- Para... Não gostei desse comentário. Diz Joan, porém sem conter um pequeno risinho. Espera, elas estão conversando. Quero ouvir.

Atrás de uma fileira de armários próximas dos chuveiros, Joan e Laura ouvem o que Hellen e suas colegas conversam.

- E quando eu voltar com ele, com certeza seremos eleitos casal do ano na festa de entrada de férias. Diz Hellen com seu tom de voz exuberante, bem diferente do que usava com Joan no banco.

- Ah é? Mas pra isso você precisa voltar com ele... Disse uma ruivinha baixinha em um dos chuveiros. Essa água não esquenta... Vou trocar de chuveiro.

- E o que me parece q ele já está em outra. Disse uma negra, enquanto se secava.

- Ah ta. Aline, você sabe o que acontece com quem entra no meu caminho né? A Raniele, tadinha nem viu de onde veio o golpe. Nem agüentou continuar estudando aqui. Não mandei ela se meter com meu amado. Disse Hellen com uma expressão de satisfação.

- Você age como se estivesse dominando a situação. Se não queria que ele terminasse com você, porque deixou ele livre, pra qualquer uma chegar em cima?

- Ah... Ele veio com aquele papo que eu sufoco ele. Imagina! Ai quando eles começam tem que fingir que estão no comando... Ele pediu um tempo, eu dei!

- Poderosa! Gritaram todas em um único som.

Toda aquela conversa deixava Joan irritada. Hellen era uma falsa! Que bom que descobriu isso a tempo. Já não tava muito a fim de ajudá-la mesmo...

- Mas é que você não viu a tal que tá afim dele. Continuou Aline, na intenção de alertar a amiga.

- Você pensa que não. Ela já está na minha mão. Aquela roceira não vai dar muito certo aqui. Fica andando pra cima e pra baixo achando que ta podendo!

Joan cerrou as mãos. Tinha certeza que era dela que estavam falando. “Mas ela nem me conhece, como sai falando essas coisas?”

- Você não dorme né? Diz uma loirinha baixinha rindo.

- Nunca. Afirmou Hellen, secando os cabelos.

Laura, atônita, olha Joan nos olhos, estarrecida.

- Onde fui me meter amiga! Diz Joan sussurrando para Laura.

- É. Diz Laura afirmando com a cabeça.

- Cabulando minha aula meninas? Diz Ângela, a treinadora entrando no vestiário.

- Não, já estamos indo. Com toalhas na cabeça para não serem reconhecidas, saem pelo canto em direção à piscina.

As amigas de Hellen riem disparadamente.

- Acho que elas ouviram nossa conversa. Diz Aline, preocupada.

- O que elas podem fazer? Sejam que for não são ninguém! Diz Hellen em voz alta.

Joan ouve este ultimo comentário, cheia de ódio. Mas não olha para trás. Não quer perder a pequena vantagem que têm por causa de seu temperamento.

Laura sai muito chateada.

- Aquelas ordinárias vão ver! Diz ela cheia de ódio. Joan esteja você ou não apaixonada pelo Gui, vou te ajudar no que eu puder.

- Ah, pra mim isso é o de menos Laura. Eu queria é um pouco de tranqüilidade. Essas garotas são umas fanáticas que uma hora se darão mal, muito mal. Mas o Gui não merece ser um objeto dessa garota.

- Olha, sinceramente Joan, acho que o Gui esteve com a Hellen esse tempo porque quis. Será que ele nunca percebeu que ela era uma garota assim, depois de um bom tempo juntos? Não acho que ele seja tão burro.

- Será?

Mas Joan também se lembrou o quanto se decepcionou por acreditar tanto nas pessoas. A Laura poderia estar errada, mas era melhor colocar os pés no chão antes de comprar a briga dos outros. Por mais apaixonada que tivesse, por mais que Gui lhe despertasse muitos sentimentos adormecidos, era melhor ser cautelosa.

Chegando a piscina, Joan ficou maravilhada com o tamanho e a profundidade da mesma. Claro que estava longe de ser os rios ao qual estava acostumada mas, era grande para uma piscina comum. Estava louca para dar um mergulho.

Com um maiô azul que pegou emprestado de Laura para poder nadar, ela só esperava a ordem da professora para iniciar o aquecimento. O maiô que Laura lhe emprestou era meio velho e desbotado. Laura havia comprado um novo, levou o reserva, sabendo que Joan não teria como fazer a aula sem a roupa de banho. Era um maiô azul, com detalhes em amarelo e as inicias MC bordadas, dando um toque básico ao uniforme.

Após o aquecimento, os alunos foram entrando na água para fazer os exercícios. Joan logo deu uns mergulhos na parte funda. Aí estava algo que gostava: nadar. Nos rios que banhavam a fazenda, era sempre a mais rápida, era chamada de sereia pelos colegas. Não só por nadar bem mas por ser bonita também, algo que ela não gostava muito de ostentar. Sua beleza, que em sua mente era bem menos do que os outros diziam, sempre atraía a paixão belos garotos, e também o ódio e a inveja das meninas.

Não se achava bonita. Considerava-se magra demais para os padrões. O cabelo longo e pesado também não a agradava. Só não cortava por causa da mãe.Suas pernas não eram grossas nem finas. Eram normais. E isso que ela achava de seu corpo: normal, sem brilho, sem destaque. O que para ela não fazia diferença, pois não era muito vaidosa.

Ângela, a treinadora, logo chama Joan à borda.

- Você nada bem querida. Gostaria de fazer um teste com você.

- Claro. Diz Joan com um breve sorriso.

A treinadora chama dois outros garotos que estavam por ai. Um deles bem alto e com uma expressão de que não era uma pessoa confiável.

- Carlos, Tonni, vou fazer um teste com vocês. Esta garota é uma aluna nova, mas pelo pouco que vi, ela tem potencial para ser uma nadadora. Quero que vocês façam um teste com ela para eu saber se eu realmente estou errada.

- Faço sim, mas treinadora, você sabe que ela vai comer poeira né? Ninguém consegue acompanhar a gente. Disse Carlos, o que Joan não teve boa impressão.

Gui, do outro lado da piscina observava a conversa, tentando advinhar o que acontecia.

Joan, depois de ter sido desafiada, cerrou os punhos e disse:

- Vamos ver quem vai comer poeira!

Carlos fez uma expressão debochada.

Todos se prepararam para assistir a pequena competição enquanto os nadadores se preparavam. Tonni, o outro cara, olhou-a com uma expressão tranqüila.

- Liga não, ele é assim mesmo. E piscou virando-se para olhar a raia.

Uns momentos antes de a treinadora apitar, lembrou-se da fazenda, dos momentos em que nadava no rio e pescava com as mãos. Respirou e sentiu o cheiro de cloro, o que lhe deu mais ânimo para vencer.

E a treinadora apita.

-Vai Joan! Torcia Laura junto a alguns alunos. Outros torciam por Carlos e uma menoria torcia por Tonni.

Joan logo toma a dianteira, seguida de Carlos e Tonni por ultimo. Carlos percebe que Joan está a frente e se esforça para se aproximar. Faz jogo sujo e puxa o pé de Joan para o fundo e toma a dianteira.

Joan tenta se recuperar mas perde o fôlego e acaba se afogando. Gui vendo a cena, salta na piscina para pegar Joan.

Consegue salva-la mas ela fica desacordada.

- Viu o que você fez? Diz Tonni olhando pra cara de Carlos, pronto para lhe dar um soco?

- O que? Ela que não sabe nadar direito! Ele fala, cínico.

Gui tenta fazer os primeiros socorros básicos mas não funciona.

- É melhor tentar o boca a boca, isto não está funcionando, diz a treinadora, sabendo que Gui é o melhor aluno de primeiros socorros.

- Eu empurro e você faz a respiração, fala Gui para Ângela.

- Não, você respira.

- Ta.

Gui começa o processo de sucção nos lábios gelados de Joan. Sentiu que ela ficava sem vida a cada momento. Tentaram várias vezes até que ela começasse a reagir.

“Onde estou” acordou Joan aos poucos enquanto se lembrava do que havia acontecido. Sentiu algo estranho na boca. Era a boca de Gui fazendo lhe a sucção. Abriu os olhos e viu que era ele quem estava a “beijando”.

Meio que inconscientemente, correspondeu aos beijos e logo todos perceberam boquiabertos. Ela abriu os olhos e logo parou e se afastou. Viu Gui vermelho de vergonha, porém com a cara de quem tinha gostado daquele último momento.

- Venha conosco disse a treinadora erguendo-a e levando para a enfermaria.

Olhou para Gui.

- Depois quero falar com você. Disse ele baixinho, só pra ela ouvir.

Ela, ainda tonta, só consentiu e seguiu para a enfermaria.

Hellen, que passava no momento, observava a cena, intrigada.

Um novo começo 6

Capítulo 6

Estava preocupadíssima, Ronie estava chegando, e ela não sabia o que fazer. Mas também encontrava espaço para Gui em sua mente. O jeito de Gui lembrava em partes Ronie, apesar de que Gui a provocava e a afrontava quase todas as vezes que se encontravam. Gui não era totalmente doce e aberto como Ronie. Gui não falava sobre ele mesmo, não falava sobre seus problemas, suas inspirações, deixava escapar meras suposições e apenas aproximava-se dela quando necessário, em momentos difíceis e tristes, quando se lembrava de suas tragédias, de seu passado morto, de Ronie. “Arhg! Quando este tormento vai acabar?!” Exclama.

- Gui? Disse ela ao vê-lo se aproximar.

Gui vinha em direção a ela, eles se encontravam na porta da escola distribuindo uns papéis que pareciam ser o jornal da escola.

Ele não estava só. Estava acompanhado de um garoto de óculos e uma menina muito bonita.

- O que é isso Gui?

- Leia! É a Folha Castelo, o jornal da escola. Entregou o nas mãos dela, tocando levemente seus dedos. Eles se entreolharam.

Ele estava alegre, com aquele sorriso que ela gostava tanto de ver mas ficou envergonhado se virou para o jornal.

- Olhe aqui Joan! Ele virou a página na coluna de esportes. Essas fotos eu mesmo tirei.

Eram fotos do time feminino de vôlei na final do campeonato entre escolas. Havia vários lances do jogo como saques e cortadas e também fotos do time recebendo as medalhas e o troféu de primeiro lugar. O foco delas estava ótimo e a maioria das fotos estava interessante, inclusive uma da capitã adversária cumprimentando a capitã vencedora com a seguinte legenda: O espírito esportivo estava em alta.

- Não sabia que você fotografava tão bem... Elogiou Joan.

Por trás deles chega a garota do Jornal e aborda Joan.

- Oi Gui, quem é a sua amiga? Nossa como você é bonita! Quer comprar o jornal? É vinte centavos, é pra ajudar o nosso grêmio estudantil. Disse ela com um sorriso no rosto e um brilho no olhar.

- Helen, vê se relaxa... Faz a sua parte que eu faço a minha ta? Eu ia avisa-a sobre o preço ta?

- Ah sim! Calma, não fica bravinho Gui! Disse a loira dando um abraço forte em Gui – Não fica assim tah? O dia só ta começando, não há pra quê ficar nervoso.

- Helen... – Tenta ele falar enquanto é sufocado pelo abraço de Helen – Pare com isso... Na frente dos outros...

- Toma aqui o dinheiro Gui. Disse Joan num misto de irritação e raiva. Eu já vou. Ela pega o jornal e sai andando em passos largos e entra na escola.

Nem ela acreditou que sentiu ciúmes! Foi involuntário. Seu coração agiu antes de sua mente perceber mas já era tarde, será que Gui percebeu? “Ah isso não pode ter acontecido! Como eu pude dar bandeira desse jeito? Não vou olhar pra trás se não posso piorar minha situação... Mas quem essa garota pensa que é abraçando o Gui daquele jeito? Espera... Será que ela é quem estou pensando? Mas ela é tão... Bonita!”

- Joan, espera! Quero te mostrar mais fotos!

- Gui, ela já foi! Grita Helen para Gui, sacudindo a longa trança loira, com seus olhos azuis admirando Joan e balançando seus lindos brincos de pérolas. E continuou vendo que a atenção dele estava direcionada a outra garota. Vamos continuar.

- Não enche ta? Tem hora que você perde a noção sabia?

- Só porque eu quero fazer um bom trabalho, almejando o prêmio de jornalista mirim do ano? Muita gente passou enquanto você conversava e sequer olhou o jornal. É você que fala tanto em prêmios e desempenho e agora anda distraído com qualquer coisa. Mas quem é aquela menina? É nova na escola?

- Ta Helen, vamos continuar. Diz Gui,desconversando.

Helen sorri com o canto da boca.

- Não vamos misturar as coisas. Não é Gui?

Mike, o garoto de óculos que está com eles, assiste toda a cena e, como sabe que Helen se derrete por Gui, mesmo não namorando mais com ele, sabe que aquela ceninha foi tudo ciúmes e novamente Gui cai como um patinho no truque dela. Helen era uma das garotas mais populares do colégio, uma menina rica e acostumada a ter tudo o que quer. Ela almejava Gui há algum tempo, mas queria um jeito mais súbito de aproximar-se, por isso ela entrou para o jornal da escola. Usou do sonho de Gui para aproximar-se dele, disse que queria ser jornalista somente para impressioná-lo e conseguiu namora-lo, mas não durou. De repente ele começou a parar de dar atenção a ela e, do nada, pediu um tempo. Como assim? Ela pensava. Deve ter alguém nessa história e preciso descobrir quem é. Mas não desistiria tão facilmente, e, qualquer “contratempo” que aparecesse seria arrancado como uma erva daninha de seu jardim. Pelo menos era o que ela pensava...

- Gui! Dizia Mike após a Helen ter subido a sala. Era aquela a menina da entrada de quem você tinha me falado?

- Sim, mas como você percebeu que era ela?

- Porque ela era realmente bonita, do jeito que você me falou. Aliás, ainda melhor. Disse ele. Acho que vou namorar com ela... Disse ele em tom de brincadeira.

- Ih cara... Duvido que você consiga alguma coisa, aquela menina é muito complicada... Ela é chata, chorona... Disse Gui despistando.

- Parece que alguém não curtiu a idéia de eu namora-la...

- Nada haver! Você acha que eu ia namorar com ela? Ta louco...

- Já ouvi esse papo antes quando você conheceu a Helen e deu no que deu. Mike falou.

- Só que a gente já foi...

- Mas escuta o que eu te digo... a Helen ainda ta gamada em você... e vai melar qualquer namoro que você tiver...

- Você está exagerando. A Helen não é assim. Ela é zelosa pelo jornal... E muito amiga.

- Se você diz... Aliás, a Joan olhava muito para você... Acho que ela também gosta de você...

- Você acha?! Disse Gui em tom de entusiasmo, sorrindo.

- Te peguei! Então quer dizer que você gosta dela né?

Gui estava sem ter o que dizer.

- Pode deixar isso não vai sair daqui. Mike falou para acalmar Gui.

Gui ficou em silêncio. Nem confirmou, nem negou.

Na sala, a aula estava acabando. Faltavam dez minutos para o recreio. Joan aproveitou que não tinha nada para fazer e leu o jornal.

“ Feira de ciências, campeonato de natação, festa do agito na semana que vem...”

- Espera? Festa?

- O que foi Joan? Perguntou Laura.

- Você não leu o jornal? Vai ter festa na semana que vem!

Laura viu o entusiasmo de Joan, porém não se comoveu e continuou o que estava fazendo.

- O ingresso ta bem barato, dê uma olhada Laura...

- Acho que desta vez eles querem atrair bastante gente, a última festa que teve foi o maior fiasco.

- É, pode ser Laura.

O sinal tocou.

Laura se levanta após guardar seus pertences e desce junto com Joan. O sol estava um pouco mais forte e Joan foi instintivamente para o mesmo banco do dia anterior, onde havia conversado com Gui. A brisa refrescava-lhe o rosto e sentia uma grande paz. Paz. Era aquilo que ela precisava em seu coração. De sorrir, só faltava alguém com quem dividir seu coração. Havia tanta desilusão, tanta dor que o muito que ela desejava era alguém para chorar em seu ombro. Quando já estava superando tudo, o passado reaparece para persegui-la. Lembrou-se de como Gui fora afetuoso com ela, sempre que ela precisou. Sorriu. E Laura que no primeiro dia de aula oferecera-lhe a cadeira ao lado para salva-la... Ah! se tudo permanecesse daquele jeito... Um sonho que jamais deixaria de sonhar. Mas a realidade mostrava suas garras.

- Adorei esta pedra do seu pingente! Helen fala sentando-se ao lado de Joan no banco.

- Gostou? Mesmo?

- Sim, combina bem com você. Com seus olhos. Nossa, como o dia está bonito hoje! Disse Helen esticando os braços e jogando-se no banco ao lado de Joan. Ah, desculpe, nem pedi licença pra sentar-me aqui contigo! Como sou desajeitada...

- Ah, tudo bem... Desculpou Joan ainda meio desconfiada. Não tem problema...

- Melhor então... Aliás, você é amiga do Gui?

- Eu? Como assim? Joan sentiu uma intromissão por parte de Helen.

- Ah! Eu nem me apresentei... Meu nome é Helen, sou da oitava série, turma 8A. E, assim como Gui, sou do jornal da escola.

- É, deu pra perceber...

Helen sentiu uma ponta de indiferença nas palavras de Joan, mas prosseguiu. Afinal, ainda estava conhecendo...

- Voltando ao assunto... Você o conhece a quanto tempo?

- Há algumas semanas... Desde que me mudei...

- Ah... Desculpe-me eu nem perguntei seu nome!

- Meu nome é Joan...

- Desculpe-me querida pela intromissão... Ela balançou as longas tranças. Ah então você é a Joan? Ele me falou de você e bastante até. Disse ela com um sorriso bonitinho no rosto.

- É? Falou o que? Joan ficou curiosa.

- Falou que tinha conhecido uma menina bem legal na praça, que ela estava chorando e tudo... Mas depois que eles conversaram ela ficou melhor... Fiquei morrendo de pena.

Joan torce o nariz neste momento. Não gostou de ser motivo de pena da Hellen, uma pessoa que ela nem conhecia.

- Mas ele não me disse que você estudava aqui no Monte. Nossa que distraído... Nisso ela mostra uma expressão de tristeza. “Será pelo fim do namoro?” pensou Joan, mas era cara de pau demais perguntar.

- Pena que a gente terminou... Eu gostaria tanto de saber o porquê disso tudo... Bem, Nisso Hellen se prepara para dizer alguma coisa.

- Tive uma idéia. Você pode me ajudar a descobrir, já que é amiga dele. Me ajuda, por favor?

Hellen a encara com um olhar de súplica onde era impossível negar.

- Tudo... Bem... Disse Joan com um olhar espantado e não acreditando nas próprias palavras

- Nossa, muito obrigado! Sinto que nós seremos muito amigas! Vou andando que tenho muitas coisas para resolver, sobre a festa que vamos dar, muita coisa mesmo! Espero que você apareça lá eim. Tchau.

- Tchau... Falou ela, mas Helen já havia ido embora. Como um furacão, veio e foi. Essa garota... Será ela o contratempo de que Laura havia me falado? Mas eu nem to namorando ele nem nada... Vou me preocupar com isso pra quê? Ele é só meu amigo e assim vai permanecer... Se é que é meu amigo mesmo... Não quero mais nada com ele.

Joan pôs a mão na cabeça com a expressão meio preocupada. Toda a paz já se tinha ido... Lembrou da chegada de Ronie e não sabia o que fazer.

- Ronie... Pensou em voz alta.

- Quem é Ronie? Gui chega subitamente.

- O que você ta fazendo aqui? Isso não é de sua conta.

- Foi por acaso ele que te deu isto? Disse ele agachando-se e pegando o pingente entre suas mãos.

- Não toque! Ela num sobressalto, empurrou-o o fazendo perder o equilíbrio. Ele tentou se segurar, mas como estava agachado, ele ia cair por cima dela... Colocou as mãos sobre os ombros dela e apoiou-se no encosto do banco. A queda fez os seus rostos se aproximarem... Abriram os olhos e por um centímetro não se beijaram na boca.

- Desculpe-me pelo susto, não era a minha intenção. Ela vira o rosto rapidamente enquanto ele se levanta.

- Não precisa se desculpar, eu sou o culpado de tudo. As maçãs do rosto dele ficam rosadas como pêssegos maduros. Ele se vira e sai um pouco apressado.

- Ei! Espere! Joan grita em vão. Seu coração disparava, havia brilho em seu olhar e suava de emoção. Não havia mais dúvidas. O pior ela acabava de pensar, e se descobrisse que ela era o motivo de Gui ter terminado com Hellen?

- O que houve? Vi você conversando com a Helen... Chega Laura comendo um sanduíche e dando o outro para Joan.

- Não houve nada... Laura, não sei se devo te dizer isto, mas... Estou apaixonada.

- O que?...

sexta-feira, 20 de março de 2009

Um novo começo 5

Capítulo 5

- Não posso acreditar! Como o Ronie tem a cara de pau de me ligar? Não quero ouvi-lo nem por telefone. Disse Joan para si mesma enquanto subia para seu quarto. Entrou e foi direto para a gaveta da penteadeira e pegou o pingente de cristal que tanto custara a achar.

Pegou e apertou-o nas mãos “O que será que ele quer comigo? Será que quer reatar? Será que está querendo pedir desculpas? O que ele fez não tem perdão. Agora ele é passado em minha vida e se ligar de novo, vai ouvir poucas e boas... Logo agora que...”

Neste momento uma brisa trouxe Gui para sua mente cansada. Pensou em como Gui havia sido legal com ela, desde que ela chegou, sem sequer conhece-la. Neste momento qualquer mínima ansiedade que sentia por namorá-lo, principalmente por saber que ele está sem namorada, caiu junto com as lágrimas que desciam de seu rosto.

Resolveu descansar pra esquecer todos aqueles pensamentos.

Abriu a porta e era Gui, trajando um belo terno semelhante ao de seu tio diretor e numa das mãos um ramalhete de rosas vermelhas.

- Vamos? Estamos atrasados.

- Sim, vamos.

O cabelo dela estava escovado com uma mecha caindo pelo lado. O vestido era de gala, longo, apertado no busto até a cintura, com gola em “v”, mangas compridas e punho largo. Salto de cristal para completar a produção.

Entraram no carro que os esperava.

- Vamos, a noite é muito especial hoje. Falou ele, com os cabelos caindo por sobre os olhos. Tenho algo para você.

Ela, apenas cheirava as rosas e ficava em silêncio. No peito, uma aflição, seu pingente brilhava.

- Chegamos. Disse ele.

Ele abre a porta do carro e estende a mão para ajudá-la a sair. Como numa moldura, num filme romântico antigo. Um recorte acrescentado à imagem, algo que não fazia parte de sua realidade, mas que ao mesmo tempo, dentro daquele contexto conseguia fazer todo o sentido.

Eles adentram um luxuoso restaurante guiados por uma bela recepcionista onde são levados a uma mesa ótima com música ao vivo. Assim que escolhem seus pratos no cardápio, um garçom traz um champanhe gelado e borbulhante para eles.

Os dois se entreolham.

- Joan, eu tenho um pedido a fazer. Ele coloca uma caixa de veludo sobre a mesa. Abra por favor.

Ela pega a caixa. Era uma caixa bela, preta e com umas inscrições prateadas em cima. Com certeza de uma joalheria renomada.

- Está bem. Ela fala abrindo a caixa.

Um belo cordão dourado e um pingente rosa está na caixa.

- São para mim? Falou ela.

- Sim. É para marcar um novo começo em nossas vidas. Deixar o passado para trás. Coloque por favor.

Trocar o colar para ela seria abrir mão de um passado vivido, não apenas de lembranças ruins, mas também das lembranças da fazenda de sua avó, de sua antiga escola...

- Não, eu não vou colocar!

- Por quê?

- Você não pode invadir assim a minha vida e me fazer tomar decisões!

- E não vai! Uma voz ressoa na porta do restaurante. Neste instante todas as pessoas do restaurante ouvem o escândalo.

Um rapaz loiro e alto aparece na porta do restaurante. Seus olhos claros e sua pele amorenada pelo sol das lavouras trazem a Joan um rosto que ela não queria nunca mais ver. Ronie.

- Ah! Abriu os olhos e já era noite. Um sonho... Foi tudo um sonho... Será que tem algum significado?

- Filha! Grita Alenne do andar debaixo. O jantar está pronto.

- Só um minutinho, vou arrumar-me e já desço.

- Não demore! Senão a comida esfria.

Sentou-se na penteadeira e escovou os longos cabelos. Os cabelos castanhos mais lisos e brilhosos da fazenda toda dizia Ronie... Os dois haviam estudado juntos e viveram uma história de amor. Ela amava Ronie mais que ela mesma. E Ronie parecia sentir o mesmo. O garoto mais doce da fazenda, disputado por unhas e dentes entre as mais lindas e refinadas da escola... Herdeiro de muito, mas que agia como pessoa do povo, não era esnobe como seus irmãos. Ronie estava no meio de todos, seja dos compradores, seja dos trabalhadores, dos colhedores, dos animais... Mas apenas um gesto fez a máscara cair. No momento em que ela mais precisou, recebeu a punhalada. Uma que quase a matou.

Escolheu uma roupa bem confortável. Uma blusa de lã bege desbotada com um urso bordado no centro e uma saia de pregas jeans, também já desbotada. Desceu para o jantar.

- Filha, coma, pois já está quase frio.

Havia um prato já posto na mesa. Era lasanha. Sua mãe havia escolhido logo seu prato favorito, parece que tinha adivinhado o tamanho de sua fome. A lasanha estava única.

- Não coma rápido, filha!

- Calma mãe, está tudo sob controle. Disse Joan com a boca cheia.

Todos já haviam jantado e estavam na sala assistindo um programa de comediantes, o favorito do pai dela.

Já havia lavado os pratos, ia escovar os dentes e deitar para...

Trim! Trim!

- Eu atendo. Disse a mãe.

Joan sentiu um frio na espinha. Algo ia acontecer...

- Filha, é pra você.

Joan pegou o telefone bruscamente e foi para uma sala a parte para se sentir a vontade.

- Alô. Disse ela, seca.

- Oi Joan, é muito bom falar com você. Aquele sotaque era inesquecível. Era Ronie.

- Fale logo o que quer. Se for sobre o que aconteceu, não vou te perdoar.

- Eu não estou preocupado com isso. Apenas quero te dar uma notícia.

- O que agora? Vai se casar com ela? Grita Joan, impaciente.

- Não. Melhor. Estou indo pra aí, para a cidade. Cansei de viver aqui na fazenda. Sua mãe disse que havia colocado você em uma ótima escola. Vou para aí, estudar e morar com vocês.

- O que?

- Tu, tu, tu... Ele havia desligado.

Um novo começo 4

Capítulo 4

Passou as ultimas aulas pensando em todas as descobertas que havia feito a respeito de Gui. Ele a intrigava bastante. E Laura também estava perceptível a tudo, ela sabia de toda a história, mas Joan não queria parecer desesperada e resolveu parar de perguntar sobre ele.

Olhou para Laura enquanto desciam as escadas. Ela era uma garota de aparência doce mas amadurecida. Era observadora a princípio e quieta, deu pra perceber que ela não tinha muitos amigos. Se a intenção de Joan fosse ficar popular, com certeza não seria ao lado dela. Mas não pensava nisso naquele momento. Sua intenção com Laura era das melhores. Queria uma amiga e era isso que parecia ter, pelo menos a princípio.

Na sua antiga escola todos se falavam, eram amigos. E os alunos novos eram sempre bem recebidos. Mas não queria pensar no passado. Pois entre essas coisas boas havia fatos a serem esquecidos.

Viu Gui perto da portaria acenando para ela.

Ela responde acenando e se aproxima dele juntamente com Laura.

- Olá Joan, vamos?

- Vamos onde? Ficou intrigada com a abordagem de Gui.

- Não se lembra de quando eu disse que esperaria você?

- Não. Você disse isso quando?

- No pátio, eu disse até depois! Não se lembra?

- Ah! Agora lembro. “mas jamais achei que você me esperaria” disse em pensamento. Mas aonde vamos?

- Vou te levar até em casa. Diz Gui.

- Joan, eu já estou indo. Não quero chegar muito tarde. Até amanhã.

- Tchau. Foi bom te conhecer. Agradece Joan com um sorriso. Obrigada.

- Eu digo o mesmo. Tchau. Diz Laura virando-se e seguindo.

Mesmo com o contratempo que houve no pátio, Joan sentia que Laura era uma boa amiga, em quem se podia confiar. Esperava que seus instintos não tivessem errados.

Ela se virou e foi.

- E o seu irmãozinho, como está? Fala Gui após Laura os deixar a sós.

- Ele está no Jardim de Infância agora. Está bem, Graças a Deus.

- E você está melhor?

- Estou, mas vai demorar um pouco para me adaptar.

- Você se mudou recentemente... Lembrei-me.

- Eu vim do interior do estado.

- Nossa, mas você não tem sotaque algum, parece que nasceu aqui na capital! Fala Gui surpreso.

- Meus pais são da cidade, eles trabalhavam aqui, mas iam para lá no fim de semana.

- Então você ficava sozinha lá? Neste momento eles ajeitam as mochilas e seguem caminho, ainda falando.

- Nada! É uma história longa. Eu tinha vários parentes lá. Nunca estava sozinha. Sempre havia alguém ao meu lado... Neste momento ela fala com certa tristeza. Mas por várias razões eu tive que vir pra cá.

- Gostaria de ouvir estar razões.

- Uma garota me disse que você é tão tímido na escola, porque comigo você não é assim tímido? Desconversa ela.

- Sei lá! Você é diferente.

- Ta me dizendo que eu sou estranha?

- Não! Não é isso não!

- Então é o quê? Ela indaga nervosa.

- Que tal tomar um sorvete? Aproveitou ele, já que passavam em frente à sorveteria.

- Espertinho! Aceito.

Seguiu em direção a sorveteria. A mesma onde havia tomado sorvete com seu irmão Tales.

- Oi! Como vão? Disse a atendente simpática.

- Oi, dois sorvetes, por favor!

- Eu quero de Açaí. Falou Joan.

- Eu quero de morango.

A atendente olhou para os dois e, em seguida, virou-se para pegar os sorvetes.

- E cobertura de quê?

- de chocolate para mim. Falou ela.

- E eu de nozes.

“Pediu o mesmo que o Tales, que coincidência” pensou ela.

- Ele também é seu irmão? Perguntou a atendente do balcão com o mesmo sorriso simpático da última vez em que ela esteve ali. Como se lembrasse dela.

- Não.

-Então ele é seu namorado?

Os dois se entreolharam, ele abaixou a cabeça, com as bochechas avermelhadas e sem ter o que dizer.

- Não! Nós só somos amigos. Ela falou em alto som chamando a atenção de todos.

Todos olharam para eles em silencio pra ver quem estava gritando. Pequenos comentários do tipo “mas até que eles combinam...”, “ela é bonitinha” podiam ser ouvidos no meio do burburinho ali.

Eles saíram da sorveteria cheios de vergonha, cada um com seu sorvete na mão e em silêncio.

- Gui, eu já vou. Minha casa é perto daqui, posso ir sozinha.

- Não! Eu vou contigo até em casa. Disse que te levaria em casa e vou levar. Gui estava feliz, pois viu que aquela Joan chorona havia sumido. Mal a conhecia, mas sentia algo especial próximo a ela.

- Ta, se você quer assim... Consente Joan.

Ele fez como disse que faria, a levou até em casa.

- Eu já cheguei Gui, muito obrigada.

- Eu que agradeço... A esta hora eu estaria em casa sem nada pra fazer...

- Mas Gui, você não está namorando?

Ele ficou em silencio por um minuto.

- Estava... Responde ele com um olhar vago.

- Ah... Respondeu Joan com um olhar baixo. Não sabia se ele estava triste ou feliz por ter terminado, mas no fundo sentia que ele estava aliviado. Será que ele estaria disposto a enfrentar um novo relacionamento? Ah, que pensamento mais besta! Até parece que ele depois de ter aparentemente sofrido tanto tentaria arriscar de novo. Mas no que ela estava pensando? Ela não estava em condições de namorar também, mas parecia que estava melhorando, toda aquela distancia daqueles acontecimentos estava fazendo bem a ela. Conhecer novas pessoas, na verdade, no fundo ela sabia que era Gui que a fazia sentir-se melhor, desde aquele apoio na praça, até ele leva-la em casa como em ele estava fazendo, ali parado, o sol de meio-dia quente, porém gostoso, uma leve brisa em sua pele, o longo rabo de cavalo de Joan sendo jogado de um lado para o outro, crianças brincando nos quintais, isso era perfeito, mas era cedo demais para dizer...

Ele a olha nos olhos

Ela deu um breve sorriso, mas não sabia como cumprimentá-lo. Meio sem jeito aproximou-se do rosto dele o beijou... Na bochecha.

Ele se virou e foi para casa, acenando para ela de longe.

- Até que não foi ruim... Parece que tudo está voltando aos seus eixos... Esqueci de dar o telefone a ele! Diz Joan batendo a porta.

- Ele quem? Entra a mãe de Joan, Alenne, na sala. Aliás, você recebeu ligação.

- Quem ligou? Eu não dei meu telefone a ninguém, a não ser que seja da direção da escola pedindo alguns documentos...

- Não era. Era do interior. O Ronie. Ele quer falar com você.

- O Ronie? Não acredito! Logo agora?!!

Um novo começo 3

Capítulo 3

Mal conhecia Gui e já se sentia interessada em saber o que Laura tinha para dizer! Há tempos Joan não sentia tanto entusiasmo, e não se interessava por ninguém. Havia deixado seu pingente em casa. E com ele, parte de sua alma não estava ali. Estava sentada no pátio de sua escola esperando por Laura, os lanches que ela havia ido compra e as novidades que ela contaria. Mas a notícia de que Gui tinha namorada mexeu com ela, mesmo que fosse só amiga, sentiu uma ponta de ciúmes, mas pensando bem, será que poderia se dizer realmente amiga dele?

O pátio era amplo,com algumas árvores que balançavam com o vento, os canteiros cheio de botões em flor premeditavam e uma primavera florida. Os bancos alvos no qual estava inclusive sentada num deles davam um charme todo especial ao pátio.

Sua alma estava ferida pelo seu passado, sentia-se deprimida e cansada. Alguns casais sentavam-se juntos em vários bancos, onde o vento balançava os longos cabelos das meninas que seguravam a mão de seu parceiro na promessa de nunca solta-lá. Isso já a deixava agoniada. Laura demorava a voltar.

- Laura, como você demorou... Disse Joan enquanto virava-se, já que havia sentido uma mão em seu ombro.

- Laura? Você deve estar me confundindo com outra pessoa... Era Gui com aquele sorriso típico.

- É você de novo?

- Por quê? Algum problema em me ver? Se quiser eu vou embora... Disse Gui em tom de brincadeira.

- Não, pode ficar... Disse ela desanimadamente.

- Porque esta cara? Parecia tão bem hoje cedo...

- Olha... Eu não estou a fim de falar dos meus problemas ok? Se for ficar, fique em silêncio.

- Já estou vendo que você está de mau humor... Dá licença... Gui fala ao mesmo tempo em que se levanta e sai.

- Espere! Joan grita desesperadamente segurando a mão dele. Fique. Desculpe minha grosseria. É que eu fiquei me lembrando de umas coisas que aconteceram e que me deixaram muito chateada. Fique comigo, por favor.

- Ta, eu fico. Mas só se você me contar o que aconteceu. Propõe Gui, querendo matar sua curiosidade.

E como Laura demorava. Parecia que tinha feito de propósito, pensava Joan. Mas não estava disposta a contar nada pra ele e também estava sem paciência para enrolá-lo.

- Não posso dizer.

- Tudo bem. Então vou embora.

Ela novamente segura a mão dele e pede que ele fique. Dessa vez os dois se olham diretamente.

- Dessa vez eu deixo passar, mas na próxima...

- Desculpe-me. Disse ela com lágrimas nos olhos. Fique comigo. Ele sentou-se e abraçou-a. Sentia-se culpada por deixar os seus problemas atrapalhar suas amizades. Tinha que reconstruir a sua vida e deixar as desilusões do passado pra lá. Ela deitou a cabeça em seu ombro e chorou. Joan sentia-se protegida ao estar ali com Gui. Não se preocupava com nada. Parecia que só ele fazia sua tristeza dissipar.

Os dois ficam se olhando e seus rostos se aproximam.

- Joan, a cantina estava lotadíssima, um monte de gente esperando... Laura chega cheia de lanches nas mãos e quase não vê o que está à frente. Joan? O, oi... Ela toma um susto ao ver os dois ali abraçados. Desculpe-me... Eu atrapalhei alguma coisa?

- Claro... Claro que não! Remenda Gui meio sem jeito.

Joan também está vermelha. Os dois logo se levantam.

- Olha que horas são! Grita gui olhando para o relógio. A Helen vai me matar. Deixei-a esperando lá no jornal. Tchau Joan! Tchau Laura! Até depois. Ele deixa as meninas e vai à direção do prédio do colégio.

Laura e Joan sentam-se no banco e começam a devorar o tão demorado lanche. As duas estavam desconcertadas. Laura sabia que não tinha nada com a vida de Joan, afinal, acabara de conhecê-la. Mesmo assim tentava entender a situação fugindo do óbvio, de que eles estariam juntos e pior, com Gui namorando outra pessoa!

- A cantina estava muito lotada Joan, por isso que demorei.

- Que chato né.

- Você é parente do Gui?

- Não. Aliás, conheci-o recentemente, no dia da minha mudança. Porque a pergunta?

- Por nada, é que vocês estavam muito a vontade um com o outro... Aí pensei nesta possibilidade.

- Se quer saber se estamos juntos, não, não estamos juntos. Disse Joan meio irritada.

- Desculpe. Laura logo fica vermelha, sem graça com a grosseria de Joan.

- ... Eu que peço desculpas pela minha resposta ignorante.

- Tudo bem. Mas ele tem andado estranho há uma semana. Ele sempre é tão fechado, mas agora tem falado com todo mundo, até o jornal da escola ficou mais interessante... Mesmo com todos os incômodos...

- Que incômodos? Pergunta Joan curiosa. –Seria a namorada dele?- Se pergunta em pensamento.

- Você logo vai saber...

Toca o sinal do fim do recreio.

Joan se pergunta: - Faz mais ou menos uma semana que eu cheguei e Laura diz que ele está diferente há um a semana... Será que é por minha causa? E que incômodos são esses que ele têm no jornal?

Um novo Começo 2

Capítulo 2


“Ah meu Deus! Já são sete horas! O relógio não despertou e logo no meu primeiro dia de aula vou chegar atrasada! Não podia ser pior.”

Escolheu uma roupa bem formal para o primeiro dia, já que não tinha uniforme. Uma calça jeans meio folgada , uma blusa branca de algodão, tênis preto e um colete de crochê de várias cores porque fazia frio. Resolveu prender o cabelo bem no alto. Arrumou-se no espelho, usou maquiagem discreta para disfarçar o inchaço nos olhos e um batom cor de boca.

Fez umas torradas e um café forte. Ficou lembrando-se da semana anterior, quando haviam chegado de viagem, que havia conhecido um garoto super simpático na praça do bairro. Mesmo voltando ali várias vezes depois do ocorrido, não o reencontrou. Agora que o telefone estava instalado, queria lhe dar o número, para que pudessem conversar com calma. Mas não tirava da cabeça a possibilidade de nunca mais vê-lo. Apesar dele parecer uma pessoa bacana e um bom amigo.

“ Ah sim, era Gui seu 'nome'”

Pegou a mochila e saiu assim que tomou o café.

No caminho ainda passou pela praça onde encontrou Gui. Nos outros dias em que não o encontrou deu várias voltas pela vizinhança para conhecer todo o bairro. De alguma forma, sua tristeza havia se dissipado, não totalmente mas já conseguia sorrir. Ainda não havia passado na área que fica próxima a escola. Colégio Monte Castelo era o nome. Uma escola renomada e particular onde, possivelmente, passaria o resto de seus anos escolares até que fosse para faculdade. Não sabia nem como começar. Não conhecia ninguém, provavelmente todos os grupos da turma já estariam prontos e mesmo sendo muito comunicativa, seria difícil fazer amizade com o pessoal popular.

Finalmente havia chegado. A escola era enorme e haviam poucas pessoas na portaria.

- Com licença, senhor...

- Sim? Um porteiro velho e barbudo a atendeu.

- Eu sou aluna nova e gostaria de saber onde fica a sala 8B.

- 8B? Você já está na oitava série? Parece-me muito novinha! Diz o porteiro zombando dela.

- Ei senhor, já tenho catorze anos se quer saber! Dizia ela fazendo biquinho.

- Pequenininha desse jeito? Duvido. Tá mais pra doze.

- Ora seu...

- Menina, se quer saber alguma coisa, pergunte ao Diretor Adjunto, ele com certeza vai saber te explicar. Além do mais, não posso sair da portaria agora.

- Onde posso encontrá-lo? Pergunta Joan ainda tensa.

- Segue direto neste corredor.

Enquanto ela ajeitava a mochila, apareceu um homem com uma aparência jovem, um bigode bem feito, um terno preto muito bem passado e um olhar acolhedor. “Muito jovem para um diretor, deve ser recém formado. É muito elegante e bonito. Mas pra quê um terno tão fino?”

- Este é o Diretor, menina.

- Sim, sou eu. Ele disse, dando um sorriso acolhedor.

- Esta menina é aluna nova e está procurando a sala dela. O porteiro, novamente intervém.

- Qual a sala?

- Sala 8B. Falou ela.

- É a sala do meu sobrinho. Ele tava todo envolvido com os preparativos da edição do jornal escolar este mês. Será que ele não está por aí para ajudá-la? Eu estou tão ocupado agora. Gostaria de aguardar uns minutinhos na sala de espera?

- Não precisa se preocupar, eu mesmo consigo me achar aqui dentro da escola. Disse ela confiante.

- Pequena desse jeito? Duvido. O porteiro novamente zomba dela.

- Me deixa em paz, seu chato! Ela reclama. Não se preocupe diretor, eu me acho aqui dentro.- Neste momento uma pessoa se aproxima do diretor.

- Tio, Não vai ver os preparativos do jornal para este mês?

- Gui! Finalmente te encontrei! Seu tio exclama de alegria. Você pode me ajudar? Essa menina está precisando de ajuda para encontrar a sala dela que, por coincidência, é a mesma da sua. Leve ela porque agora tenho que resolver outros assuntos.

- Tio, mas... Ele fica sem respostas. Ok pode deixar.

Eles se olham de frente. Joan fica pasmada ao ver que é ele, o Gui, o garoto que a acudiu na praça quando ela se encontrava em prantos. Quase não havia o reconhecido naquele uniforme almofadinha com gravata e tudo. Estava lindo! Todo penteado e olhando-a com as bochechas avermelhadas, porém feliz, com um meio sorriso no canto dos lábios.

Aquele colégio seria diferente de tudo aquilo que ela vivenciou em sua cidadezinha. Naquele local as regras pareciam funcionar. Passou por algumas turmas e viu os alunos, todos sentados, fazendo suas tarefas sem conversar. Em sua antiga escola isso seria impossível, não que lá fosse uma bagunça, mas as regras se faziam na conversa, todos podiam opinar que seriam ouvidos pela direção. O diretor parecia bem parcial, mas a rigidez aparente demonstrava o contrário.

- Oi. Está melhor?

- Sim. Respondeu ela enquanto caminhava, seguindo-o.

- Aquele dia, nem deu tempo da gente conversar...

- Tudo bem, sem problemas... Ela estava tímida por ele tê-la pego chorando da última vez.

- É por aqui.

Subiram uma escada e ainda caminharam por um longo corredor.

- Onde está aquela jóia que você estava usando?

- Deixei em casa.

Andaram mais um pouco em silêncio e chegaram à sala de aula.

- É aqui. Vou avisar ao professor que você chegou.

- Não precisa não, eu mesmo...

Ele segurou seu braço.

- O professor é muito bravo, deixe comigo.

- Tá, se você insiste...

Ele entreabriu a porta e olhou, depois falou alguma palavras com o professor. Em seguida, ele a chamou.

- Entre logo, eu vou ao jornal. Tchau.

- Tchau Gui.

- Hei garota, ande logo para o seu lugar! Está atrapalhando a minha aula!

Joan estava incrivelmente desnorteada, não conseguia nem se mexer tamanho era a vergonha que ela passava.

- Aqui! Uma garota de óculos e cachos loiros falou apontando para uma carteira próxima.

Joan rapidamente sentou-se na carteira e olhou para a loirinha de óculos dando um sorriso de agradecimento.

- Esse professor é sempre assim? Perguntou Joan a loirinha.

- Nada, você precisa vê-lo de mal humor... Cochicha a aluna.

As duas riem.

- Qual é o motivo da graça aí atrás?

- Nenhum professor.

- Então silêncio, principalmente você aluna nova...

Voltaram a fazer as tarefas.

- Qual o seu nome? Pergunta Joan a outra menina.

- Meu nome é Laura. Você é amiga do Gui?

- O conheci estes dias. Mas não posso dizer que sou amiga dele.

- Que pena, ele é muito legal. Se ela não sufocasse tanto ele... Mas que ele e a namorada dele se entendam... Eu não tenho nada haver com isso... – Uma breve faísca sai dos olhos de Laura e um sorriso maroto no canto dos lábios demonstram interesse na história do casal.

- Como assim? Pergunta Joan curiosa. Quer dizer que ele tem namorada?

Neste momento entra Gui na sala e vira-se na direção de Joan sorrindo. Um sorriso semelhante ao de seu tio. Sentou-se sozinho, pegou o caderno e começou a escrever.

- Do que você está falando? Pergunta Joan mais curiosa do que nunca.

Sentindo uma pitada de interesse no ar, Laura diz:

- Hmmm, no intervalo a gente conversa melhor.

Trimmmmmmmm! O sinal do intervalo toca.

Joan ria por dentro. Não via a hora de conhecer melhor as pessoas daquele colégio, que parecia ser bem intrigante.

- Vamos descer, disse Laura.

- Ta. Joan fecha a mochila se levanta e sai.

Um novo começo

Capítulo 1


Encontrou o pingente atrás da cômoda. Não ia sossegar enquanto não o encontrasse.

Na chegada da mudança, a maioria das coisas se perderam, mas aquele pigente não! Nunca! Jamais! Era a lembrança mais preciosa daquela terra. Era uma pena ter deixado a cidadezinha, mesmo assim, não fazia mais sentido continuar ali.

- Joan? Sua mãe disse vestindo um avental azul que havia sido da falecida avó de Joan. O jantar está pronto. Você está trancada aí no quarto desde que chegamos!

- Calma! Já resolvi meu problema. Já estou descendo.

Abriu a porta do quarto e desceu como uma bala.

- Está animada com a mudança filha?

- Não pai, estou com fome mesmo.

- Porque não dá uma volta pela cidade?

Degustando um pedaço de carne assada, ficou pensando. “Se eu for, posso conhecer um pouco esse bairro. Mas ainda tenho muito o que organizar no meu novo quarto.”

- Se for, leve o Tales junto! Ele quer sair.

Abriu um olhar de reprovação. “Eu não vou carregar esse pirralho comigo! E se alguém me ver com ele?”

- Pensando bem, não vou não.

- Não vai só porque eu disse para levar seu irmão! Você vai sim!

- É, eu quero sair. Tales grita.

- Tá bem, já que obrigam...

Terminou o jantar.

- Bem, se vamos, então fique quieto Tales! Senão conto tudo para minha mãe.

- Tá.

Colocou a blusa azul de mangas compridas e a saia rodada no estilo hippie com sandália média. Cabelo solto e seu colar com pingente de cristal, seu favorito.

- Vamos.

Ele pegou a mão dela e sairam pela porta da frente. Era tudo muito diferente. Logo na esquina haviam vária lojas. Todas as ruas eram asfaltadas. Haviam muitos transportes e pessoas.

- Nossa! Tudo isso é ótimo!

- Quero um sorvete. Tales já resmungava.

- De quê? Joan falava, impaciente.

- De morango com cobertura de nozes!

- E precisava perguntar! Esse é seu favorito. Deixe-me pegar o dinheiro.

Seguiram em direção a sorveteria mais próxima. Haviam inúmeros sabores. Muitos até desconhecidos por eles. No local haviam algumas mesas para os clientes saborearem a vontade seus sorvetes, uma ambientação dos anos 50 deixava o local com um charme incomparável.

- O que é açaí? Pergunta Joan , curiosa, para a atendente, uma senhora gorda e muito simpática.

- É um sabor muito gostoso. Vem de uma fruta bastante vitaminada, faz bem para os músculos. É bem natural. Disse a atendente entusiasmada.

- Eu quero um desses com cobertura de chocolate.

- E eu de morango! Com nozes! Disse Tales ,gritando.

- Já vou te atender garotinho.

- Não, ele está comigo. Pode pôr na mesma conta.

- Tudo bem, me desculpe jovem. A atendente preparou os sorvetes e voltou. Por acaso vocês são irmãos?

- É, somos.

- Pois se parecem. Entregou os sorvetes e pegou o dinheiro, conferindo cada moeda.

- Está certo. Voltem sempre!

- Tchau.

- Açaí é bom! Disse Joan ao provar.

Ao caminharem, logo após tomar os sorvetes, encontraram uma aconchegante praça. Era gramada, com um notável playground, muitas madames passeando com seus pudows, crianças brincando numa parte mais iluminada debaixo da vista de seus pais, cautelosos e um chafariz com uma estátua de anjo soprando água.

- Posso brincar no escorrega? Tales dizia, puxando a blusa de Joan.

- Vai e pára de puxar minha roupa. E vê se fica por perto ta?

- Ta Joan.

Ela dava uma breve volta pelo parque, no meio das árvores. “Tudo começou de novo. Terei de fazer novos amigos, freqüentar uma nova escola... parece que tudo que vivi terei que deixar. Em algum lugar.” Olhou para o pingente que custou a achar na bagunça da mudança enquanto uma leve brisa que anunciava a primavera passava balançando os botões de flor, prontos a desabrochar na próxima manhã.

O crepúsculo vespertino ainda fazia uma leve presença no horizonte. A noite caía com toda sua força e todas as suas estrelas estavam presentes. “Foram tantas promessas, tantos sonhos, que pena que tudo acabou, e daquela forma...”

Deixou cair uma lágrima enquanto sentava em um dos bancos da praça. Ali, pranteou até os olhos incharem, sem vergonha do olhar alheio sobre sua dor. Contrastando com toda aquela beleza e alegria daquele lugar.

Nada fazia sentido. Mesmo assim, tentava entender em vão o porquê daquilo tudo.

Levantou-se atordoada pois a hora já avançava.

- Ai! Joan havia esbarrado em alguma coisa.

- Cuidado por onde anda garota! Dizia o garoto em quem Joan havia esbarrado e derrubado.

- Me desculpe. Shhh.

Percebendo seu olhos inchados, o garoto viu que ela havia chorado bastante.

- Aconteceu alguma coisa? Dizia ele se aproximando dela cautelosamente.

- Nada. Joan se descontrola. Deixe-me chorar em paz!

- Me desculpe, nem me apresentei, meu nome é Guilherme mas pode me chamar de Gui. E seu nome é...

- Joan. Ela sussurra. Ainda tensa.

- Nossa, que diferente...

- Diferente o quê?

- O seu nome.

- O que você quer dizer? Que meu nome é feio?

- Não! Ele fica assustado com essa mudança de atitude dela.

- Então?!

- É que eu nunca havia conhecido uma Joan antes. Explica ele, cauteloso ainda.

- Ah.

- Você está melhor agora? Pergunta ele.

- Acho que sim. Ela finalmente ergueu os olhos e reparou como ele era. Ele não era feio. Era de uma beleza comum, latina. Cabelos lisos e negros, olhos castanhos nem claros nem escuros, uma pele morena e lisa e um sorriso natural cheio de vivacidade. A princípio parecia de uma sinceridade peculiar mas havia aprendido a não confiar nas aparências.

- Desculpe incomodar então gata, eu tenho que ir agora. Tem telefone?

- Por enquanto não, acabei de mudar para cá.

- Irmã. Tales aparece. Vamos pra casa?

- É, já está na hora de eu ir também. Num gesto espontâneo e desmedido, ela segura a mão dele com as suas. Obrigada. Diz ela com um olhar doce, um olhar de agradecimento.

- De, de nada. Ele gagueja timidamente e tira a mão dizendo: Tchau Joan, até a próxima. E sai em disparada.

- Vamos para casa Tales, você está com sono? Diz ela pegando-o no colo.

- Sim.

- Até que para quatro anos você não está tão pesado.

- “...” Tales já dormia.