sábado, 21 de março de 2009

Um novo começo 8

Capítulo 8

Joan, ainda com os cabelos molhados, pensava no que havia acontecido. Um beijo inesperado, de uma forma que ela jamais poderia imaginar. Na verdade, ainda pairavam duvidas no ar. Se Gui realmente correspondeu ao beijo ou apenas tentava salvar sua vida. O que tinha certeza é que seu corpo agiu instintivamente, percebendo que Gui a beijava, apenas correspondeu, mostrando o quanto o amava.

- Você estava fingindo Joan? Chega Laura de sopetão.

- Fingindo o quê?

- Fingindo que se afogou...

- Que pergunta idiota Laura! Não está vendo que quase morri ainda pouco?

- Ah, não é isto que seu rosto diz...

- É? E o que o meu rosto diz?

- Que foi um beijo, e você aproveitou cada segundo dele.

- Laura, não foi de propósito o que aconteceu. Aquele idiota do Carlos puxou mesmo a minha perna e eu, desacostumada a algum tempo a nadar, acabei perdendo o fôlego.

- Ah. Desculpe Joan, eu precisava ouvir da sua boa.

- Poxa pensei que você acreditasse mais em mim.

- Não é isso. É que ta rolando um boato ai que você se afogou de propósito só pra ser beijada pelo Gui.

- Aposto como certa pessoa tem dedo nessa história. - Dizia Joan referindo-se a Helen - Mas Laura, você deveria me ouvir primeiro, antes de ouvir os outros. Se diz que é minha amiga, tem que ser amiga na prática também.

- Ah desculpe, vamos deixar isso pra lá? Prometo que não vou dar ouvidos a esses boatos. Diz Laura para fazer as pazes de novo.

- É, até porque se você quer me ajudar, vou ter q confiar em você e se você ficar agindo assim, vai ser difícil.

- Tranquila agora?

- Ok. Mas Laura... Vou confessar uma coisa. Quando senti que ele tava me beijando, o desejo falou mais alto e eu respondi de forma instintiva.

- Já imaginei pelo seu rosto. Hehe!

- Mas ainda tenho minhas dúvidas... Tenho medo de confessar o que sinto. Ele pode me achar uma idiota, porque nem conheço ele! Ele ainda parece preso a alguma coisa.

- Parece que não é só o Gui que tem passado... Diz Laura jogando um verde.

- Ah! Passado é passado, o que importa é o presente agora. Joan despista.

Joan e Laura seguiam para a saída da escola enquanto conversavam.

- Espero que você esteja certa, olha quem está te esperando.

Gui a esperava encostado no portão da saída com uma expressão obscura.

Ele a olhou com um olhar apreensivo e apontou para o relógio.

“Não sei...” Pensou enquanto olhava para Laura, transparecendo a dúvida que havia em seu coração. Laura olhou-a como que respondendo “Vai! Tente!”. Joan sorri e responde com um olhar positivo, fechando e abrindo rapidamente, como uma confirmação.

- Até amanhã. Disse Joan a Laura, despedindo-se dela.

Laura apenas sorriu. E disse com os labios “Boa sorte”.

O pequeno momento que seguia em direção a Gui, durou uma eternidade para Joan. A breve brisa que soprava folhas secas em seu cabelo era como que um obstáculo entre ela e sua paixão. Pensava se Gui iria apenas desfazer o mal entendido na natação, se iria contar que voltou para Helen, se iria se declarar, ou dizer que não está interessado nela, ou falar se era só amizade, ou se a pediria em namoro, ou se pediria outro beijo...

Em outro lugar da cidade, exatamente no aeroporto, um garoto loiro dos cabelos longos um pouco abaixo dos ombros, alto, olhos verdes, chegava com suas malas, vestindo uma calça jeans e um moletom xadrez, chegou a uma das saídas enquanto chegava um taxi, fazia uma ligação.

- Alenne?

- Já chegou Ronnie?

- Sim, pensei que você me buscaria, mas pelo que vejo você está ocupada. Esqueci que você estava trabalhando sogrinha.

- Ah, eu fiz de tudo para sair daqui mas não deu. Pega um táxi e segue todas as indicações que vou te passar. É só tu falar a ele que você consegue chegar aqui sem problemas. Tem caneta ai?

- Tenho.

- Então anota. Joan vai ficar muito feliz em te ver. Aquela boba...

- Hehe! Passa aí o endereço.

Emquanto ele anota o endereço, Joan sequer se lembra da existência de Ronie ao lado de Gui.

- Gostaria de te convidar para dar uma volta.

- Gui, eu não posso chegar muito tarde em casa. Tenho que cuidar do meu irmão enquanto minha mãe está trabalhando.

- É rápido.

- Se você diz...

Andaram rua afora, sem puxar assunto. No fundo, Joan ainda estava tímida por causa dos acontecidos. Só queria ter uma chance para pedir desculpas, por ter causado tanta preocupação.

- Gui eu...

- Fale.

- Eu queria te pedir desculpas pelo que aconteceu hoje cedo. Não queria que parecesse o que...

- Parecer o quê? Ah! Parecer que você tinha se afogado é isso?

- Não é isso. Responde Joan desapontada.

- É o que então?

- Ah deixa, é que eu pensei que você...

- Que eu o quê?

- Nada.

- Ah. Agora vai falar... Disse Gui meio que impondo, com um sorriso sarcástico na boca.

- Não quero falar. E eu que tava alimentando esperanças...

- Esperanças de que? Não estou entendendo você hoje. Parece que depois que se afogou ficou meio louca, não fala coisa com coisa!

- E você depois que me salvou parece que ficou um grosso nogento! Deixa pra lá, eu vou embora.

- Espera! Diz ele agarrando-a pelo braço. Eu te chamei aqui porque queria falar com você.

- Então fala logo. Estou com pressa.

- Queria te convidar para ir a minha casa. É perto daqui. É só para almoçar comigo, minha tia está lá e faz comidas muito gostosas. Aí pensei em chamar você. Disse ele com uma expressão totalmente diferente da anterior. O rostinho que Joan tanto gostava.

- Tudo bem. Disse Joan meio contrariada. Mas não pense que pode me tratar assim.

- Assim como? É você que não fala coisa com coisa...

- Ah não começa antes que eu desista.

- Ok. Já chegamos.

Estavam em frente a uma casa bonita, apesar de simples. Um muro forrado com aqueles arbustos e um portão de madeira com toldo de telha. Entraram. O pátio era composto por um pequeno jardim, florido naquela época do ano, uma pequena área gramada e uma bela varanda com uma rede. A tia dele atendeu-a graciosamente.

- Este colar é muito bonito, disse a tia de Gui.

- Foi um presente de minha avó. A pedra foi encontrada em sua fazenda e ela resolveu me presentear.

- De muito bom gosto. Disse a tia, uma mulher jovem que aparentava um pouco mais de vinte anos.

- Tia Kat, e o rango? Já ta pronto?

- Ah calma aê. Vai tirar o sapato pelo menos enquanto eu preparo os pratos.

- Ok.

- Sente-se Joan, vou preparar o seu lugar a mesa. Vejo que veio para comer, o Gui deve ter feito uma grande propaganda minha pra você. Disse ela com um sorriso terno.

- Ah, acredite, só vim aqui por sua causa. Disse Joan. “ Porque esse Gui é um idiota!” pensou ela.

Enquanto Kat estava na cozinha, Joan estava a mesa, sentada ao lado de Gui esperando o almoço.

- Você mora com sua tia?

- Sim. É que meus pais estão viajando a trabalho.

- Nossa, que chique!

- Minha tia Kat é a esposa do meu tio que trabalha na escola.

- É mesmo? Até que eles combinam, os dois são bonitos.

- Pois é. A beleza é de família. Disse ele com um sorriso pretensioso nos lábios.

- Haha. Grande piada.

- Piada porque? Você não me acha bonito?

- Talvez se você fosse mais humilde...

- Então quer dizer que você acha?

- Para. Eu não falei isso. Você que fica colocando palavras na minha boca.

- Ah, foi você que disse. Apenas não falou da boca pra fora.

Um cheiro maravilhoso vinha da cozinha. Era lasanha. Isso os aquietou um pouco.

- Nossa, agora lembrei o quanto estou com fome. Resmungou Gui.

- É, eu também.

- Pois não parece, fica aí arranjando motivo pra ficar discutindo...

- E você com essas piadas sem graça?

- É que eu estou delirando por causa da fome...

- Sei...

Chega Kat com a travessa de lasanha.

- De queijo e presunto como você gosta Gui.

- Tia, você é maravilhosa.

- Agora sou né? Só na hora da comida.

Lembou-se da lasanha do dia anterior, em sua casa. Era seu prato favorito, e pelo jeito o de Gui também. Devorava a sua como um animal. Por mais que Gui a tratasse daquele jeito, não conseguia odiá-lo. Era um cara que parecia ser superficial, e dava todos os sinais de ser. Pensou por um momento, talvez, que fosse um príncipe encantado, no momento em que ela era a bela adormecida e ele a despertou com um beijo. Mas parece que o beijo o transformou num sapo, um sapo belíssimo ainda assim sapo.

- Estou satisfeita. Falou Joan, enquanto Gui e Kat terminavam de comer. Onde é o banheiro?

- Naquela porta. Disse Gui apontando a direção.

- Ok. Obrigada.

Entrou, conferiu os dentes, lavou a boca pois estava sem escova para escovar os dentes ali e saiu.

- Já vou. Já está tarde. Daqui a pouco vou buscar meu irmãozinho na escola.

- Quer que eu te leve de carro querida? Diz Kat.

- Não quero incomodar. Vou andando. A escola dele é perto daqui.

- Vou te levar até a porta. Se prontifica Gui.

Gui a leva até a porta.

- E aí? Não disse que minha tia arrasa?

- É. Quando eu engordar vou mandar a conta do meu spa pra vocês.

- Faço questão de pagar se você almoçar todo dia aqui. Diz Gui com um sorriso maroto no rosto.

- Se todo dia for lazanha...

- Ah, aí também não dá! A gente é pobre esqueceu? A propósito.

- A propósito o que? Responde Joan meio impaciente.

- Eu gostei muito.

- Da lasanha?

- Não, do beijo.

Joan fica muda de repente.

- Ou você pensa que não percebi?

- Não sei do que você está falando. Desconversa ela.

- Pensa que eu não senti o seu lábio mexendo naquela hora?

- Ah! Isso acontece. Eu nem percebi. Deve ter sido inconsciente.

- Mas eu gostaria de repetir. Agora conscientemente.

- Está tarde. Tenho que ir. E você para de besteira. Diz Joan colocando um tom de brava mas por dentro mais feliz do que nunca.

- Pensa nisso! Grita ele enquanto Joan sai correndo em direção a outra rua.

Joan parou para colocar os pensamentos no lugar. Gui primeiro ficou de graça, enrolando até fazer ela ir a casa dele. Fez ela comer pacas, apresentou-a a tia que é quase uma mãe, e depois ainda diz que se lembrou do beijo? No fim das contas esteve o tempo todo jogando o jogo dele. Ele pode não ser um príncipe encantado mas é um sapo bem esperto.

- Ele é esperto... Diz ela enquanto abre a porta de casa. Tales entra correndo como um louco para a cozinha. Escuta vozes na cozinha, provavelmente a mãe chegou mais cedo.

- Irmãozão! Gritou Tales na cozinha.

- Não! Grita Joan para si mesma. Só havia uma pessoa que Tales chamava de irmãozão. Era seu ex.

- Oi cunhadinho! Tava com saudades, vamos pintar o sete agora que eu cheguei.

Olhou a cozinha. Lá estava ele, um pouco diferente. Cabelos longos, mais do que ela havia deixado. Os olhos e o porte físico continuam o mesmo. Uma beleza que não a impressionava, já que ela sabia a pessoa que havia por dentro daquela escultura.

- Oi, Joan. Estava com saudades. Diz ele meio que emocionado.

- Oi. Diz ela seca enquanto é abraçada por ele.

- Tenho muito o que fazer. Tenho que me matricular na sua escola, não posso parar os estudos. Sua mãe disse que a sua escola é ótima. Por isso vim para cá. Quero me preparar bem para ir para a faculdade. Vou fazer agronomia para ajudar meu pai no plantio. Mas para isso preciso me preparar. Joan, tá ouvindo?

- Há tantas escolas boas aqui, porque precisa ser justamente na minha que você vai estudar.

- Eu não tenho nada haver com isso. Foi a Alenne que me indicou. Meus pais concordaram e eu estou aqui. Prometo que não vou incomodar.

Joan o conhecia. Ele era assim, inconveniente. Onde pudesse estar para se aproximar dela, ele estaria. Sabia o quanto ele empataria o caso dela com Gui. Principalmente agora, que eles estavam sabendo que tinham “afinidades”.

- Vou ter uma conversa séria com minha mãe. Joan fala, encerrando o assunto e subindo para o quarto.

Um novo começo 7

Capítulo 7

“ Ah! Natação! Até isso eles ensinam aqui!” Pensava Joan enquanto seguia para a quadra poli esportiva do colégio. Pensava no que iria dizer a professora, afinal, não havia comprado o maiô e não sabia que teria aula de natação naquele dia.

Laura estava ao seu lado, andava olhando para a frente, mas, de vez em quando, olhava para Joan dando um sorriso.

- Laura, o que eu faço? Não tenho o maiô para aula...

- Eu tenho um reserva aqui na bolsa, está limpo... quer usar?

- Quero sim, obrigada...

Entraram no vestiário para fazer a troca de roupas. Perceberam que vestiam o mesmo número, mesmo Joan sendo mais alta. Apesar de terem se conhecido em pouco tempo, Laura se mostrava uma pessoa muito tranqüila, mas Joan não sabia se podia confiar nela. A amizade delas estava ainda no início, por isso Joan não queria se precipitar e falar demais. Já havia confessado sua paixão secreta a ela, o que já era algo muito íntimo e que poderia compromete-la, ainda mais com o pedido de Hellen... Outra pessoa que chegou pedindo algo muito difícil, colocar sua pequena paixão nos braços de outra, por quem não tinha nenhum conceito.

Laura percebe o fitar de Joan e sorri, ligeiramente dizendo:

- Está quase na hora... Logo a treinadora Ângela vai entrar aqui gritando e apitando que nem uma louca.

- Haha. Joan ri, singelamente.

Do outro lado chegam outras garotas, que não são da classe de Joan. Uma delas com um cabelo louro muito particular. Era Hellen, que chega com um grupo de quatro garotas rindo e passando para a outra ala de chuveiros. Parece que sua aula havia acabado.

- Olhe Laura, aquelas garotas.

- Sim, uma delas é a sua rival... Diz Laura com um brilho nos olhos.

- Para... Não gostei desse comentário. Diz Joan, porém sem conter um pequeno risinho. Espera, elas estão conversando. Quero ouvir.

Atrás de uma fileira de armários próximas dos chuveiros, Joan e Laura ouvem o que Hellen e suas colegas conversam.

- E quando eu voltar com ele, com certeza seremos eleitos casal do ano na festa de entrada de férias. Diz Hellen com seu tom de voz exuberante, bem diferente do que usava com Joan no banco.

- Ah é? Mas pra isso você precisa voltar com ele... Disse uma ruivinha baixinha em um dos chuveiros. Essa água não esquenta... Vou trocar de chuveiro.

- E o que me parece q ele já está em outra. Disse uma negra, enquanto se secava.

- Ah ta. Aline, você sabe o que acontece com quem entra no meu caminho né? A Raniele, tadinha nem viu de onde veio o golpe. Nem agüentou continuar estudando aqui. Não mandei ela se meter com meu amado. Disse Hellen com uma expressão de satisfação.

- Você age como se estivesse dominando a situação. Se não queria que ele terminasse com você, porque deixou ele livre, pra qualquer uma chegar em cima?

- Ah... Ele veio com aquele papo que eu sufoco ele. Imagina! Ai quando eles começam tem que fingir que estão no comando... Ele pediu um tempo, eu dei!

- Poderosa! Gritaram todas em um único som.

Toda aquela conversa deixava Joan irritada. Hellen era uma falsa! Que bom que descobriu isso a tempo. Já não tava muito a fim de ajudá-la mesmo...

- Mas é que você não viu a tal que tá afim dele. Continuou Aline, na intenção de alertar a amiga.

- Você pensa que não. Ela já está na minha mão. Aquela roceira não vai dar muito certo aqui. Fica andando pra cima e pra baixo achando que ta podendo!

Joan cerrou as mãos. Tinha certeza que era dela que estavam falando. “Mas ela nem me conhece, como sai falando essas coisas?”

- Você não dorme né? Diz uma loirinha baixinha rindo.

- Nunca. Afirmou Hellen, secando os cabelos.

Laura, atônita, olha Joan nos olhos, estarrecida.

- Onde fui me meter amiga! Diz Joan sussurrando para Laura.

- É. Diz Laura afirmando com a cabeça.

- Cabulando minha aula meninas? Diz Ângela, a treinadora entrando no vestiário.

- Não, já estamos indo. Com toalhas na cabeça para não serem reconhecidas, saem pelo canto em direção à piscina.

As amigas de Hellen riem disparadamente.

- Acho que elas ouviram nossa conversa. Diz Aline, preocupada.

- O que elas podem fazer? Sejam que for não são ninguém! Diz Hellen em voz alta.

Joan ouve este ultimo comentário, cheia de ódio. Mas não olha para trás. Não quer perder a pequena vantagem que têm por causa de seu temperamento.

Laura sai muito chateada.

- Aquelas ordinárias vão ver! Diz ela cheia de ódio. Joan esteja você ou não apaixonada pelo Gui, vou te ajudar no que eu puder.

- Ah, pra mim isso é o de menos Laura. Eu queria é um pouco de tranqüilidade. Essas garotas são umas fanáticas que uma hora se darão mal, muito mal. Mas o Gui não merece ser um objeto dessa garota.

- Olha, sinceramente Joan, acho que o Gui esteve com a Hellen esse tempo porque quis. Será que ele nunca percebeu que ela era uma garota assim, depois de um bom tempo juntos? Não acho que ele seja tão burro.

- Será?

Mas Joan também se lembrou o quanto se decepcionou por acreditar tanto nas pessoas. A Laura poderia estar errada, mas era melhor colocar os pés no chão antes de comprar a briga dos outros. Por mais apaixonada que tivesse, por mais que Gui lhe despertasse muitos sentimentos adormecidos, era melhor ser cautelosa.

Chegando a piscina, Joan ficou maravilhada com o tamanho e a profundidade da mesma. Claro que estava longe de ser os rios ao qual estava acostumada mas, era grande para uma piscina comum. Estava louca para dar um mergulho.

Com um maiô azul que pegou emprestado de Laura para poder nadar, ela só esperava a ordem da professora para iniciar o aquecimento. O maiô que Laura lhe emprestou era meio velho e desbotado. Laura havia comprado um novo, levou o reserva, sabendo que Joan não teria como fazer a aula sem a roupa de banho. Era um maiô azul, com detalhes em amarelo e as inicias MC bordadas, dando um toque básico ao uniforme.

Após o aquecimento, os alunos foram entrando na água para fazer os exercícios. Joan logo deu uns mergulhos na parte funda. Aí estava algo que gostava: nadar. Nos rios que banhavam a fazenda, era sempre a mais rápida, era chamada de sereia pelos colegas. Não só por nadar bem mas por ser bonita também, algo que ela não gostava muito de ostentar. Sua beleza, que em sua mente era bem menos do que os outros diziam, sempre atraía a paixão belos garotos, e também o ódio e a inveja das meninas.

Não se achava bonita. Considerava-se magra demais para os padrões. O cabelo longo e pesado também não a agradava. Só não cortava por causa da mãe.Suas pernas não eram grossas nem finas. Eram normais. E isso que ela achava de seu corpo: normal, sem brilho, sem destaque. O que para ela não fazia diferença, pois não era muito vaidosa.

Ângela, a treinadora, logo chama Joan à borda.

- Você nada bem querida. Gostaria de fazer um teste com você.

- Claro. Diz Joan com um breve sorriso.

A treinadora chama dois outros garotos que estavam por ai. Um deles bem alto e com uma expressão de que não era uma pessoa confiável.

- Carlos, Tonni, vou fazer um teste com vocês. Esta garota é uma aluna nova, mas pelo pouco que vi, ela tem potencial para ser uma nadadora. Quero que vocês façam um teste com ela para eu saber se eu realmente estou errada.

- Faço sim, mas treinadora, você sabe que ela vai comer poeira né? Ninguém consegue acompanhar a gente. Disse Carlos, o que Joan não teve boa impressão.

Gui, do outro lado da piscina observava a conversa, tentando advinhar o que acontecia.

Joan, depois de ter sido desafiada, cerrou os punhos e disse:

- Vamos ver quem vai comer poeira!

Carlos fez uma expressão debochada.

Todos se prepararam para assistir a pequena competição enquanto os nadadores se preparavam. Tonni, o outro cara, olhou-a com uma expressão tranqüila.

- Liga não, ele é assim mesmo. E piscou virando-se para olhar a raia.

Uns momentos antes de a treinadora apitar, lembrou-se da fazenda, dos momentos em que nadava no rio e pescava com as mãos. Respirou e sentiu o cheiro de cloro, o que lhe deu mais ânimo para vencer.

E a treinadora apita.

-Vai Joan! Torcia Laura junto a alguns alunos. Outros torciam por Carlos e uma menoria torcia por Tonni.

Joan logo toma a dianteira, seguida de Carlos e Tonni por ultimo. Carlos percebe que Joan está a frente e se esforça para se aproximar. Faz jogo sujo e puxa o pé de Joan para o fundo e toma a dianteira.

Joan tenta se recuperar mas perde o fôlego e acaba se afogando. Gui vendo a cena, salta na piscina para pegar Joan.

Consegue salva-la mas ela fica desacordada.

- Viu o que você fez? Diz Tonni olhando pra cara de Carlos, pronto para lhe dar um soco?

- O que? Ela que não sabe nadar direito! Ele fala, cínico.

Gui tenta fazer os primeiros socorros básicos mas não funciona.

- É melhor tentar o boca a boca, isto não está funcionando, diz a treinadora, sabendo que Gui é o melhor aluno de primeiros socorros.

- Eu empurro e você faz a respiração, fala Gui para Ângela.

- Não, você respira.

- Ta.

Gui começa o processo de sucção nos lábios gelados de Joan. Sentiu que ela ficava sem vida a cada momento. Tentaram várias vezes até que ela começasse a reagir.

“Onde estou” acordou Joan aos poucos enquanto se lembrava do que havia acontecido. Sentiu algo estranho na boca. Era a boca de Gui fazendo lhe a sucção. Abriu os olhos e viu que era ele quem estava a “beijando”.

Meio que inconscientemente, correspondeu aos beijos e logo todos perceberam boquiabertos. Ela abriu os olhos e logo parou e se afastou. Viu Gui vermelho de vergonha, porém com a cara de quem tinha gostado daquele último momento.

- Venha conosco disse a treinadora erguendo-a e levando para a enfermaria.

Olhou para Gui.

- Depois quero falar com você. Disse ele baixinho, só pra ela ouvir.

Ela, ainda tonta, só consentiu e seguiu para a enfermaria.

Hellen, que passava no momento, observava a cena, intrigada.

Um novo começo 6

Capítulo 6

Estava preocupadíssima, Ronie estava chegando, e ela não sabia o que fazer. Mas também encontrava espaço para Gui em sua mente. O jeito de Gui lembrava em partes Ronie, apesar de que Gui a provocava e a afrontava quase todas as vezes que se encontravam. Gui não era totalmente doce e aberto como Ronie. Gui não falava sobre ele mesmo, não falava sobre seus problemas, suas inspirações, deixava escapar meras suposições e apenas aproximava-se dela quando necessário, em momentos difíceis e tristes, quando se lembrava de suas tragédias, de seu passado morto, de Ronie. “Arhg! Quando este tormento vai acabar?!” Exclama.

- Gui? Disse ela ao vê-lo se aproximar.

Gui vinha em direção a ela, eles se encontravam na porta da escola distribuindo uns papéis que pareciam ser o jornal da escola.

Ele não estava só. Estava acompanhado de um garoto de óculos e uma menina muito bonita.

- O que é isso Gui?

- Leia! É a Folha Castelo, o jornal da escola. Entregou o nas mãos dela, tocando levemente seus dedos. Eles se entreolharam.

Ele estava alegre, com aquele sorriso que ela gostava tanto de ver mas ficou envergonhado se virou para o jornal.

- Olhe aqui Joan! Ele virou a página na coluna de esportes. Essas fotos eu mesmo tirei.

Eram fotos do time feminino de vôlei na final do campeonato entre escolas. Havia vários lances do jogo como saques e cortadas e também fotos do time recebendo as medalhas e o troféu de primeiro lugar. O foco delas estava ótimo e a maioria das fotos estava interessante, inclusive uma da capitã adversária cumprimentando a capitã vencedora com a seguinte legenda: O espírito esportivo estava em alta.

- Não sabia que você fotografava tão bem... Elogiou Joan.

Por trás deles chega a garota do Jornal e aborda Joan.

- Oi Gui, quem é a sua amiga? Nossa como você é bonita! Quer comprar o jornal? É vinte centavos, é pra ajudar o nosso grêmio estudantil. Disse ela com um sorriso no rosto e um brilho no olhar.

- Helen, vê se relaxa... Faz a sua parte que eu faço a minha ta? Eu ia avisa-a sobre o preço ta?

- Ah sim! Calma, não fica bravinho Gui! Disse a loira dando um abraço forte em Gui – Não fica assim tah? O dia só ta começando, não há pra quê ficar nervoso.

- Helen... – Tenta ele falar enquanto é sufocado pelo abraço de Helen – Pare com isso... Na frente dos outros...

- Toma aqui o dinheiro Gui. Disse Joan num misto de irritação e raiva. Eu já vou. Ela pega o jornal e sai andando em passos largos e entra na escola.

Nem ela acreditou que sentiu ciúmes! Foi involuntário. Seu coração agiu antes de sua mente perceber mas já era tarde, será que Gui percebeu? “Ah isso não pode ter acontecido! Como eu pude dar bandeira desse jeito? Não vou olhar pra trás se não posso piorar minha situação... Mas quem essa garota pensa que é abraçando o Gui daquele jeito? Espera... Será que ela é quem estou pensando? Mas ela é tão... Bonita!”

- Joan, espera! Quero te mostrar mais fotos!

- Gui, ela já foi! Grita Helen para Gui, sacudindo a longa trança loira, com seus olhos azuis admirando Joan e balançando seus lindos brincos de pérolas. E continuou vendo que a atenção dele estava direcionada a outra garota. Vamos continuar.

- Não enche ta? Tem hora que você perde a noção sabia?

- Só porque eu quero fazer um bom trabalho, almejando o prêmio de jornalista mirim do ano? Muita gente passou enquanto você conversava e sequer olhou o jornal. É você que fala tanto em prêmios e desempenho e agora anda distraído com qualquer coisa. Mas quem é aquela menina? É nova na escola?

- Ta Helen, vamos continuar. Diz Gui,desconversando.

Helen sorri com o canto da boca.

- Não vamos misturar as coisas. Não é Gui?

Mike, o garoto de óculos que está com eles, assiste toda a cena e, como sabe que Helen se derrete por Gui, mesmo não namorando mais com ele, sabe que aquela ceninha foi tudo ciúmes e novamente Gui cai como um patinho no truque dela. Helen era uma das garotas mais populares do colégio, uma menina rica e acostumada a ter tudo o que quer. Ela almejava Gui há algum tempo, mas queria um jeito mais súbito de aproximar-se, por isso ela entrou para o jornal da escola. Usou do sonho de Gui para aproximar-se dele, disse que queria ser jornalista somente para impressioná-lo e conseguiu namora-lo, mas não durou. De repente ele começou a parar de dar atenção a ela e, do nada, pediu um tempo. Como assim? Ela pensava. Deve ter alguém nessa história e preciso descobrir quem é. Mas não desistiria tão facilmente, e, qualquer “contratempo” que aparecesse seria arrancado como uma erva daninha de seu jardim. Pelo menos era o que ela pensava...

- Gui! Dizia Mike após a Helen ter subido a sala. Era aquela a menina da entrada de quem você tinha me falado?

- Sim, mas como você percebeu que era ela?

- Porque ela era realmente bonita, do jeito que você me falou. Aliás, ainda melhor. Disse ele. Acho que vou namorar com ela... Disse ele em tom de brincadeira.

- Ih cara... Duvido que você consiga alguma coisa, aquela menina é muito complicada... Ela é chata, chorona... Disse Gui despistando.

- Parece que alguém não curtiu a idéia de eu namora-la...

- Nada haver! Você acha que eu ia namorar com ela? Ta louco...

- Já ouvi esse papo antes quando você conheceu a Helen e deu no que deu. Mike falou.

- Só que a gente já foi...

- Mas escuta o que eu te digo... a Helen ainda ta gamada em você... e vai melar qualquer namoro que você tiver...

- Você está exagerando. A Helen não é assim. Ela é zelosa pelo jornal... E muito amiga.

- Se você diz... Aliás, a Joan olhava muito para você... Acho que ela também gosta de você...

- Você acha?! Disse Gui em tom de entusiasmo, sorrindo.

- Te peguei! Então quer dizer que você gosta dela né?

Gui estava sem ter o que dizer.

- Pode deixar isso não vai sair daqui. Mike falou para acalmar Gui.

Gui ficou em silêncio. Nem confirmou, nem negou.

Na sala, a aula estava acabando. Faltavam dez minutos para o recreio. Joan aproveitou que não tinha nada para fazer e leu o jornal.

“ Feira de ciências, campeonato de natação, festa do agito na semana que vem...”

- Espera? Festa?

- O que foi Joan? Perguntou Laura.

- Você não leu o jornal? Vai ter festa na semana que vem!

Laura viu o entusiasmo de Joan, porém não se comoveu e continuou o que estava fazendo.

- O ingresso ta bem barato, dê uma olhada Laura...

- Acho que desta vez eles querem atrair bastante gente, a última festa que teve foi o maior fiasco.

- É, pode ser Laura.

O sinal tocou.

Laura se levanta após guardar seus pertences e desce junto com Joan. O sol estava um pouco mais forte e Joan foi instintivamente para o mesmo banco do dia anterior, onde havia conversado com Gui. A brisa refrescava-lhe o rosto e sentia uma grande paz. Paz. Era aquilo que ela precisava em seu coração. De sorrir, só faltava alguém com quem dividir seu coração. Havia tanta desilusão, tanta dor que o muito que ela desejava era alguém para chorar em seu ombro. Quando já estava superando tudo, o passado reaparece para persegui-la. Lembrou-se de como Gui fora afetuoso com ela, sempre que ela precisou. Sorriu. E Laura que no primeiro dia de aula oferecera-lhe a cadeira ao lado para salva-la... Ah! se tudo permanecesse daquele jeito... Um sonho que jamais deixaria de sonhar. Mas a realidade mostrava suas garras.

- Adorei esta pedra do seu pingente! Helen fala sentando-se ao lado de Joan no banco.

- Gostou? Mesmo?

- Sim, combina bem com você. Com seus olhos. Nossa, como o dia está bonito hoje! Disse Helen esticando os braços e jogando-se no banco ao lado de Joan. Ah, desculpe, nem pedi licença pra sentar-me aqui contigo! Como sou desajeitada...

- Ah, tudo bem... Desculpou Joan ainda meio desconfiada. Não tem problema...

- Melhor então... Aliás, você é amiga do Gui?

- Eu? Como assim? Joan sentiu uma intromissão por parte de Helen.

- Ah! Eu nem me apresentei... Meu nome é Helen, sou da oitava série, turma 8A. E, assim como Gui, sou do jornal da escola.

- É, deu pra perceber...

Helen sentiu uma ponta de indiferença nas palavras de Joan, mas prosseguiu. Afinal, ainda estava conhecendo...

- Voltando ao assunto... Você o conhece a quanto tempo?

- Há algumas semanas... Desde que me mudei...

- Ah... Desculpe-me eu nem perguntei seu nome!

- Meu nome é Joan...

- Desculpe-me querida pela intromissão... Ela balançou as longas tranças. Ah então você é a Joan? Ele me falou de você e bastante até. Disse ela com um sorriso bonitinho no rosto.

- É? Falou o que? Joan ficou curiosa.

- Falou que tinha conhecido uma menina bem legal na praça, que ela estava chorando e tudo... Mas depois que eles conversaram ela ficou melhor... Fiquei morrendo de pena.

Joan torce o nariz neste momento. Não gostou de ser motivo de pena da Hellen, uma pessoa que ela nem conhecia.

- Mas ele não me disse que você estudava aqui no Monte. Nossa que distraído... Nisso ela mostra uma expressão de tristeza. “Será pelo fim do namoro?” pensou Joan, mas era cara de pau demais perguntar.

- Pena que a gente terminou... Eu gostaria tanto de saber o porquê disso tudo... Bem, Nisso Hellen se prepara para dizer alguma coisa.

- Tive uma idéia. Você pode me ajudar a descobrir, já que é amiga dele. Me ajuda, por favor?

Hellen a encara com um olhar de súplica onde era impossível negar.

- Tudo... Bem... Disse Joan com um olhar espantado e não acreditando nas próprias palavras

- Nossa, muito obrigado! Sinto que nós seremos muito amigas! Vou andando que tenho muitas coisas para resolver, sobre a festa que vamos dar, muita coisa mesmo! Espero que você apareça lá eim. Tchau.

- Tchau... Falou ela, mas Helen já havia ido embora. Como um furacão, veio e foi. Essa garota... Será ela o contratempo de que Laura havia me falado? Mas eu nem to namorando ele nem nada... Vou me preocupar com isso pra quê? Ele é só meu amigo e assim vai permanecer... Se é que é meu amigo mesmo... Não quero mais nada com ele.

Joan pôs a mão na cabeça com a expressão meio preocupada. Toda a paz já se tinha ido... Lembrou da chegada de Ronie e não sabia o que fazer.

- Ronie... Pensou em voz alta.

- Quem é Ronie? Gui chega subitamente.

- O que você ta fazendo aqui? Isso não é de sua conta.

- Foi por acaso ele que te deu isto? Disse ele agachando-se e pegando o pingente entre suas mãos.

- Não toque! Ela num sobressalto, empurrou-o o fazendo perder o equilíbrio. Ele tentou se segurar, mas como estava agachado, ele ia cair por cima dela... Colocou as mãos sobre os ombros dela e apoiou-se no encosto do banco. A queda fez os seus rostos se aproximarem... Abriram os olhos e por um centímetro não se beijaram na boca.

- Desculpe-me pelo susto, não era a minha intenção. Ela vira o rosto rapidamente enquanto ele se levanta.

- Não precisa se desculpar, eu sou o culpado de tudo. As maçãs do rosto dele ficam rosadas como pêssegos maduros. Ele se vira e sai um pouco apressado.

- Ei! Espere! Joan grita em vão. Seu coração disparava, havia brilho em seu olhar e suava de emoção. Não havia mais dúvidas. O pior ela acabava de pensar, e se descobrisse que ela era o motivo de Gui ter terminado com Hellen?

- O que houve? Vi você conversando com a Helen... Chega Laura comendo um sanduíche e dando o outro para Joan.

- Não houve nada... Laura, não sei se devo te dizer isto, mas... Estou apaixonada.

- O que?...