sexta-feira, 20 de março de 2009

Um novo começo 5

Capítulo 5

- Não posso acreditar! Como o Ronie tem a cara de pau de me ligar? Não quero ouvi-lo nem por telefone. Disse Joan para si mesma enquanto subia para seu quarto. Entrou e foi direto para a gaveta da penteadeira e pegou o pingente de cristal que tanto custara a achar.

Pegou e apertou-o nas mãos “O que será que ele quer comigo? Será que quer reatar? Será que está querendo pedir desculpas? O que ele fez não tem perdão. Agora ele é passado em minha vida e se ligar de novo, vai ouvir poucas e boas... Logo agora que...”

Neste momento uma brisa trouxe Gui para sua mente cansada. Pensou em como Gui havia sido legal com ela, desde que ela chegou, sem sequer conhece-la. Neste momento qualquer mínima ansiedade que sentia por namorá-lo, principalmente por saber que ele está sem namorada, caiu junto com as lágrimas que desciam de seu rosto.

Resolveu descansar pra esquecer todos aqueles pensamentos.

Abriu a porta e era Gui, trajando um belo terno semelhante ao de seu tio diretor e numa das mãos um ramalhete de rosas vermelhas.

- Vamos? Estamos atrasados.

- Sim, vamos.

O cabelo dela estava escovado com uma mecha caindo pelo lado. O vestido era de gala, longo, apertado no busto até a cintura, com gola em “v”, mangas compridas e punho largo. Salto de cristal para completar a produção.

Entraram no carro que os esperava.

- Vamos, a noite é muito especial hoje. Falou ele, com os cabelos caindo por sobre os olhos. Tenho algo para você.

Ela, apenas cheirava as rosas e ficava em silêncio. No peito, uma aflição, seu pingente brilhava.

- Chegamos. Disse ele.

Ele abre a porta do carro e estende a mão para ajudá-la a sair. Como numa moldura, num filme romântico antigo. Um recorte acrescentado à imagem, algo que não fazia parte de sua realidade, mas que ao mesmo tempo, dentro daquele contexto conseguia fazer todo o sentido.

Eles adentram um luxuoso restaurante guiados por uma bela recepcionista onde são levados a uma mesa ótima com música ao vivo. Assim que escolhem seus pratos no cardápio, um garçom traz um champanhe gelado e borbulhante para eles.

Os dois se entreolham.

- Joan, eu tenho um pedido a fazer. Ele coloca uma caixa de veludo sobre a mesa. Abra por favor.

Ela pega a caixa. Era uma caixa bela, preta e com umas inscrições prateadas em cima. Com certeza de uma joalheria renomada.

- Está bem. Ela fala abrindo a caixa.

Um belo cordão dourado e um pingente rosa está na caixa.

- São para mim? Falou ela.

- Sim. É para marcar um novo começo em nossas vidas. Deixar o passado para trás. Coloque por favor.

Trocar o colar para ela seria abrir mão de um passado vivido, não apenas de lembranças ruins, mas também das lembranças da fazenda de sua avó, de sua antiga escola...

- Não, eu não vou colocar!

- Por quê?

- Você não pode invadir assim a minha vida e me fazer tomar decisões!

- E não vai! Uma voz ressoa na porta do restaurante. Neste instante todas as pessoas do restaurante ouvem o escândalo.

Um rapaz loiro e alto aparece na porta do restaurante. Seus olhos claros e sua pele amorenada pelo sol das lavouras trazem a Joan um rosto que ela não queria nunca mais ver. Ronie.

- Ah! Abriu os olhos e já era noite. Um sonho... Foi tudo um sonho... Será que tem algum significado?

- Filha! Grita Alenne do andar debaixo. O jantar está pronto.

- Só um minutinho, vou arrumar-me e já desço.

- Não demore! Senão a comida esfria.

Sentou-se na penteadeira e escovou os longos cabelos. Os cabelos castanhos mais lisos e brilhosos da fazenda toda dizia Ronie... Os dois haviam estudado juntos e viveram uma história de amor. Ela amava Ronie mais que ela mesma. E Ronie parecia sentir o mesmo. O garoto mais doce da fazenda, disputado por unhas e dentes entre as mais lindas e refinadas da escola... Herdeiro de muito, mas que agia como pessoa do povo, não era esnobe como seus irmãos. Ronie estava no meio de todos, seja dos compradores, seja dos trabalhadores, dos colhedores, dos animais... Mas apenas um gesto fez a máscara cair. No momento em que ela mais precisou, recebeu a punhalada. Uma que quase a matou.

Escolheu uma roupa bem confortável. Uma blusa de lã bege desbotada com um urso bordado no centro e uma saia de pregas jeans, também já desbotada. Desceu para o jantar.

- Filha, coma, pois já está quase frio.

Havia um prato já posto na mesa. Era lasanha. Sua mãe havia escolhido logo seu prato favorito, parece que tinha adivinhado o tamanho de sua fome. A lasanha estava única.

- Não coma rápido, filha!

- Calma mãe, está tudo sob controle. Disse Joan com a boca cheia.

Todos já haviam jantado e estavam na sala assistindo um programa de comediantes, o favorito do pai dela.

Já havia lavado os pratos, ia escovar os dentes e deitar para...

Trim! Trim!

- Eu atendo. Disse a mãe.

Joan sentiu um frio na espinha. Algo ia acontecer...

- Filha, é pra você.

Joan pegou o telefone bruscamente e foi para uma sala a parte para se sentir a vontade.

- Alô. Disse ela, seca.

- Oi Joan, é muito bom falar com você. Aquele sotaque era inesquecível. Era Ronie.

- Fale logo o que quer. Se for sobre o que aconteceu, não vou te perdoar.

- Eu não estou preocupado com isso. Apenas quero te dar uma notícia.

- O que agora? Vai se casar com ela? Grita Joan, impaciente.

- Não. Melhor. Estou indo pra aí, para a cidade. Cansei de viver aqui na fazenda. Sua mãe disse que havia colocado você em uma ótima escola. Vou para aí, estudar e morar com vocês.

- O que?

- Tu, tu, tu... Ele havia desligado.

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