sábado, 21 de março de 2009

Um novo começo 8

Capítulo 8

Joan, ainda com os cabelos molhados, pensava no que havia acontecido. Um beijo inesperado, de uma forma que ela jamais poderia imaginar. Na verdade, ainda pairavam duvidas no ar. Se Gui realmente correspondeu ao beijo ou apenas tentava salvar sua vida. O que tinha certeza é que seu corpo agiu instintivamente, percebendo que Gui a beijava, apenas correspondeu, mostrando o quanto o amava.

- Você estava fingindo Joan? Chega Laura de sopetão.

- Fingindo o quê?

- Fingindo que se afogou...

- Que pergunta idiota Laura! Não está vendo que quase morri ainda pouco?

- Ah, não é isto que seu rosto diz...

- É? E o que o meu rosto diz?

- Que foi um beijo, e você aproveitou cada segundo dele.

- Laura, não foi de propósito o que aconteceu. Aquele idiota do Carlos puxou mesmo a minha perna e eu, desacostumada a algum tempo a nadar, acabei perdendo o fôlego.

- Ah. Desculpe Joan, eu precisava ouvir da sua boa.

- Poxa pensei que você acreditasse mais em mim.

- Não é isso. É que ta rolando um boato ai que você se afogou de propósito só pra ser beijada pelo Gui.

- Aposto como certa pessoa tem dedo nessa história. - Dizia Joan referindo-se a Helen - Mas Laura, você deveria me ouvir primeiro, antes de ouvir os outros. Se diz que é minha amiga, tem que ser amiga na prática também.

- Ah desculpe, vamos deixar isso pra lá? Prometo que não vou dar ouvidos a esses boatos. Diz Laura para fazer as pazes de novo.

- É, até porque se você quer me ajudar, vou ter q confiar em você e se você ficar agindo assim, vai ser difícil.

- Tranquila agora?

- Ok. Mas Laura... Vou confessar uma coisa. Quando senti que ele tava me beijando, o desejo falou mais alto e eu respondi de forma instintiva.

- Já imaginei pelo seu rosto. Hehe!

- Mas ainda tenho minhas dúvidas... Tenho medo de confessar o que sinto. Ele pode me achar uma idiota, porque nem conheço ele! Ele ainda parece preso a alguma coisa.

- Parece que não é só o Gui que tem passado... Diz Laura jogando um verde.

- Ah! Passado é passado, o que importa é o presente agora. Joan despista.

Joan e Laura seguiam para a saída da escola enquanto conversavam.

- Espero que você esteja certa, olha quem está te esperando.

Gui a esperava encostado no portão da saída com uma expressão obscura.

Ele a olhou com um olhar apreensivo e apontou para o relógio.

“Não sei...” Pensou enquanto olhava para Laura, transparecendo a dúvida que havia em seu coração. Laura olhou-a como que respondendo “Vai! Tente!”. Joan sorri e responde com um olhar positivo, fechando e abrindo rapidamente, como uma confirmação.

- Até amanhã. Disse Joan a Laura, despedindo-se dela.

Laura apenas sorriu. E disse com os labios “Boa sorte”.

O pequeno momento que seguia em direção a Gui, durou uma eternidade para Joan. A breve brisa que soprava folhas secas em seu cabelo era como que um obstáculo entre ela e sua paixão. Pensava se Gui iria apenas desfazer o mal entendido na natação, se iria contar que voltou para Helen, se iria se declarar, ou dizer que não está interessado nela, ou falar se era só amizade, ou se a pediria em namoro, ou se pediria outro beijo...

Em outro lugar da cidade, exatamente no aeroporto, um garoto loiro dos cabelos longos um pouco abaixo dos ombros, alto, olhos verdes, chegava com suas malas, vestindo uma calça jeans e um moletom xadrez, chegou a uma das saídas enquanto chegava um taxi, fazia uma ligação.

- Alenne?

- Já chegou Ronnie?

- Sim, pensei que você me buscaria, mas pelo que vejo você está ocupada. Esqueci que você estava trabalhando sogrinha.

- Ah, eu fiz de tudo para sair daqui mas não deu. Pega um táxi e segue todas as indicações que vou te passar. É só tu falar a ele que você consegue chegar aqui sem problemas. Tem caneta ai?

- Tenho.

- Então anota. Joan vai ficar muito feliz em te ver. Aquela boba...

- Hehe! Passa aí o endereço.

Emquanto ele anota o endereço, Joan sequer se lembra da existência de Ronie ao lado de Gui.

- Gostaria de te convidar para dar uma volta.

- Gui, eu não posso chegar muito tarde em casa. Tenho que cuidar do meu irmão enquanto minha mãe está trabalhando.

- É rápido.

- Se você diz...

Andaram rua afora, sem puxar assunto. No fundo, Joan ainda estava tímida por causa dos acontecidos. Só queria ter uma chance para pedir desculpas, por ter causado tanta preocupação.

- Gui eu...

- Fale.

- Eu queria te pedir desculpas pelo que aconteceu hoje cedo. Não queria que parecesse o que...

- Parecer o quê? Ah! Parecer que você tinha se afogado é isso?

- Não é isso. Responde Joan desapontada.

- É o que então?

- Ah deixa, é que eu pensei que você...

- Que eu o quê?

- Nada.

- Ah. Agora vai falar... Disse Gui meio que impondo, com um sorriso sarcástico na boca.

- Não quero falar. E eu que tava alimentando esperanças...

- Esperanças de que? Não estou entendendo você hoje. Parece que depois que se afogou ficou meio louca, não fala coisa com coisa!

- E você depois que me salvou parece que ficou um grosso nogento! Deixa pra lá, eu vou embora.

- Espera! Diz ele agarrando-a pelo braço. Eu te chamei aqui porque queria falar com você.

- Então fala logo. Estou com pressa.

- Queria te convidar para ir a minha casa. É perto daqui. É só para almoçar comigo, minha tia está lá e faz comidas muito gostosas. Aí pensei em chamar você. Disse ele com uma expressão totalmente diferente da anterior. O rostinho que Joan tanto gostava.

- Tudo bem. Disse Joan meio contrariada. Mas não pense que pode me tratar assim.

- Assim como? É você que não fala coisa com coisa...

- Ah não começa antes que eu desista.

- Ok. Já chegamos.

Estavam em frente a uma casa bonita, apesar de simples. Um muro forrado com aqueles arbustos e um portão de madeira com toldo de telha. Entraram. O pátio era composto por um pequeno jardim, florido naquela época do ano, uma pequena área gramada e uma bela varanda com uma rede. A tia dele atendeu-a graciosamente.

- Este colar é muito bonito, disse a tia de Gui.

- Foi um presente de minha avó. A pedra foi encontrada em sua fazenda e ela resolveu me presentear.

- De muito bom gosto. Disse a tia, uma mulher jovem que aparentava um pouco mais de vinte anos.

- Tia Kat, e o rango? Já ta pronto?

- Ah calma aê. Vai tirar o sapato pelo menos enquanto eu preparo os pratos.

- Ok.

- Sente-se Joan, vou preparar o seu lugar a mesa. Vejo que veio para comer, o Gui deve ter feito uma grande propaganda minha pra você. Disse ela com um sorriso terno.

- Ah, acredite, só vim aqui por sua causa. Disse Joan. “ Porque esse Gui é um idiota!” pensou ela.

Enquanto Kat estava na cozinha, Joan estava a mesa, sentada ao lado de Gui esperando o almoço.

- Você mora com sua tia?

- Sim. É que meus pais estão viajando a trabalho.

- Nossa, que chique!

- Minha tia Kat é a esposa do meu tio que trabalha na escola.

- É mesmo? Até que eles combinam, os dois são bonitos.

- Pois é. A beleza é de família. Disse ele com um sorriso pretensioso nos lábios.

- Haha. Grande piada.

- Piada porque? Você não me acha bonito?

- Talvez se você fosse mais humilde...

- Então quer dizer que você acha?

- Para. Eu não falei isso. Você que fica colocando palavras na minha boca.

- Ah, foi você que disse. Apenas não falou da boca pra fora.

Um cheiro maravilhoso vinha da cozinha. Era lasanha. Isso os aquietou um pouco.

- Nossa, agora lembrei o quanto estou com fome. Resmungou Gui.

- É, eu também.

- Pois não parece, fica aí arranjando motivo pra ficar discutindo...

- E você com essas piadas sem graça?

- É que eu estou delirando por causa da fome...

- Sei...

Chega Kat com a travessa de lasanha.

- De queijo e presunto como você gosta Gui.

- Tia, você é maravilhosa.

- Agora sou né? Só na hora da comida.

Lembou-se da lasanha do dia anterior, em sua casa. Era seu prato favorito, e pelo jeito o de Gui também. Devorava a sua como um animal. Por mais que Gui a tratasse daquele jeito, não conseguia odiá-lo. Era um cara que parecia ser superficial, e dava todos os sinais de ser. Pensou por um momento, talvez, que fosse um príncipe encantado, no momento em que ela era a bela adormecida e ele a despertou com um beijo. Mas parece que o beijo o transformou num sapo, um sapo belíssimo ainda assim sapo.

- Estou satisfeita. Falou Joan, enquanto Gui e Kat terminavam de comer. Onde é o banheiro?

- Naquela porta. Disse Gui apontando a direção.

- Ok. Obrigada.

Entrou, conferiu os dentes, lavou a boca pois estava sem escova para escovar os dentes ali e saiu.

- Já vou. Já está tarde. Daqui a pouco vou buscar meu irmãozinho na escola.

- Quer que eu te leve de carro querida? Diz Kat.

- Não quero incomodar. Vou andando. A escola dele é perto daqui.

- Vou te levar até a porta. Se prontifica Gui.

Gui a leva até a porta.

- E aí? Não disse que minha tia arrasa?

- É. Quando eu engordar vou mandar a conta do meu spa pra vocês.

- Faço questão de pagar se você almoçar todo dia aqui. Diz Gui com um sorriso maroto no rosto.

- Se todo dia for lazanha...

- Ah, aí também não dá! A gente é pobre esqueceu? A propósito.

- A propósito o que? Responde Joan meio impaciente.

- Eu gostei muito.

- Da lasanha?

- Não, do beijo.

Joan fica muda de repente.

- Ou você pensa que não percebi?

- Não sei do que você está falando. Desconversa ela.

- Pensa que eu não senti o seu lábio mexendo naquela hora?

- Ah! Isso acontece. Eu nem percebi. Deve ter sido inconsciente.

- Mas eu gostaria de repetir. Agora conscientemente.

- Está tarde. Tenho que ir. E você para de besteira. Diz Joan colocando um tom de brava mas por dentro mais feliz do que nunca.

- Pensa nisso! Grita ele enquanto Joan sai correndo em direção a outra rua.

Joan parou para colocar os pensamentos no lugar. Gui primeiro ficou de graça, enrolando até fazer ela ir a casa dele. Fez ela comer pacas, apresentou-a a tia que é quase uma mãe, e depois ainda diz que se lembrou do beijo? No fim das contas esteve o tempo todo jogando o jogo dele. Ele pode não ser um príncipe encantado mas é um sapo bem esperto.

- Ele é esperto... Diz ela enquanto abre a porta de casa. Tales entra correndo como um louco para a cozinha. Escuta vozes na cozinha, provavelmente a mãe chegou mais cedo.

- Irmãozão! Gritou Tales na cozinha.

- Não! Grita Joan para si mesma. Só havia uma pessoa que Tales chamava de irmãozão. Era seu ex.

- Oi cunhadinho! Tava com saudades, vamos pintar o sete agora que eu cheguei.

Olhou a cozinha. Lá estava ele, um pouco diferente. Cabelos longos, mais do que ela havia deixado. Os olhos e o porte físico continuam o mesmo. Uma beleza que não a impressionava, já que ela sabia a pessoa que havia por dentro daquela escultura.

- Oi, Joan. Estava com saudades. Diz ele meio que emocionado.

- Oi. Diz ela seca enquanto é abraçada por ele.

- Tenho muito o que fazer. Tenho que me matricular na sua escola, não posso parar os estudos. Sua mãe disse que a sua escola é ótima. Por isso vim para cá. Quero me preparar bem para ir para a faculdade. Vou fazer agronomia para ajudar meu pai no plantio. Mas para isso preciso me preparar. Joan, tá ouvindo?

- Há tantas escolas boas aqui, porque precisa ser justamente na minha que você vai estudar.

- Eu não tenho nada haver com isso. Foi a Alenne que me indicou. Meus pais concordaram e eu estou aqui. Prometo que não vou incomodar.

Joan o conhecia. Ele era assim, inconveniente. Onde pudesse estar para se aproximar dela, ele estaria. Sabia o quanto ele empataria o caso dela com Gui. Principalmente agora, que eles estavam sabendo que tinham “afinidades”.

- Vou ter uma conversa séria com minha mãe. Joan fala, encerrando o assunto e subindo para o quarto.

2 comentários:

  1. Virei um amante de Joan e de suas histórias. Lendo-as com um imenso balde de pipoca. Me divirto com elas. Parabéns!


    http://tutarimbas.blogspot.com

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  2. AH...os desenhos são seus?. Adoro mangás e desenho também.

    Abraços.

    http://tutarimbas.blogspot.com

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