sexta-feira, 20 de março de 2009

Um novo começo 5

Capítulo 5

- Não posso acreditar! Como o Ronie tem a cara de pau de me ligar? Não quero ouvi-lo nem por telefone. Disse Joan para si mesma enquanto subia para seu quarto. Entrou e foi direto para a gaveta da penteadeira e pegou o pingente de cristal que tanto custara a achar.

Pegou e apertou-o nas mãos “O que será que ele quer comigo? Será que quer reatar? Será que está querendo pedir desculpas? O que ele fez não tem perdão. Agora ele é passado em minha vida e se ligar de novo, vai ouvir poucas e boas... Logo agora que...”

Neste momento uma brisa trouxe Gui para sua mente cansada. Pensou em como Gui havia sido legal com ela, desde que ela chegou, sem sequer conhece-la. Neste momento qualquer mínima ansiedade que sentia por namorá-lo, principalmente por saber que ele está sem namorada, caiu junto com as lágrimas que desciam de seu rosto.

Resolveu descansar pra esquecer todos aqueles pensamentos.

Abriu a porta e era Gui, trajando um belo terno semelhante ao de seu tio diretor e numa das mãos um ramalhete de rosas vermelhas.

- Vamos? Estamos atrasados.

- Sim, vamos.

O cabelo dela estava escovado com uma mecha caindo pelo lado. O vestido era de gala, longo, apertado no busto até a cintura, com gola em “v”, mangas compridas e punho largo. Salto de cristal para completar a produção.

Entraram no carro que os esperava.

- Vamos, a noite é muito especial hoje. Falou ele, com os cabelos caindo por sobre os olhos. Tenho algo para você.

Ela, apenas cheirava as rosas e ficava em silêncio. No peito, uma aflição, seu pingente brilhava.

- Chegamos. Disse ele.

Ele abre a porta do carro e estende a mão para ajudá-la a sair. Como numa moldura, num filme romântico antigo. Um recorte acrescentado à imagem, algo que não fazia parte de sua realidade, mas que ao mesmo tempo, dentro daquele contexto conseguia fazer todo o sentido.

Eles adentram um luxuoso restaurante guiados por uma bela recepcionista onde são levados a uma mesa ótima com música ao vivo. Assim que escolhem seus pratos no cardápio, um garçom traz um champanhe gelado e borbulhante para eles.

Os dois se entreolham.

- Joan, eu tenho um pedido a fazer. Ele coloca uma caixa de veludo sobre a mesa. Abra por favor.

Ela pega a caixa. Era uma caixa bela, preta e com umas inscrições prateadas em cima. Com certeza de uma joalheria renomada.

- Está bem. Ela fala abrindo a caixa.

Um belo cordão dourado e um pingente rosa está na caixa.

- São para mim? Falou ela.

- Sim. É para marcar um novo começo em nossas vidas. Deixar o passado para trás. Coloque por favor.

Trocar o colar para ela seria abrir mão de um passado vivido, não apenas de lembranças ruins, mas também das lembranças da fazenda de sua avó, de sua antiga escola...

- Não, eu não vou colocar!

- Por quê?

- Você não pode invadir assim a minha vida e me fazer tomar decisões!

- E não vai! Uma voz ressoa na porta do restaurante. Neste instante todas as pessoas do restaurante ouvem o escândalo.

Um rapaz loiro e alto aparece na porta do restaurante. Seus olhos claros e sua pele amorenada pelo sol das lavouras trazem a Joan um rosto que ela não queria nunca mais ver. Ronie.

- Ah! Abriu os olhos e já era noite. Um sonho... Foi tudo um sonho... Será que tem algum significado?

- Filha! Grita Alenne do andar debaixo. O jantar está pronto.

- Só um minutinho, vou arrumar-me e já desço.

- Não demore! Senão a comida esfria.

Sentou-se na penteadeira e escovou os longos cabelos. Os cabelos castanhos mais lisos e brilhosos da fazenda toda dizia Ronie... Os dois haviam estudado juntos e viveram uma história de amor. Ela amava Ronie mais que ela mesma. E Ronie parecia sentir o mesmo. O garoto mais doce da fazenda, disputado por unhas e dentes entre as mais lindas e refinadas da escola... Herdeiro de muito, mas que agia como pessoa do povo, não era esnobe como seus irmãos. Ronie estava no meio de todos, seja dos compradores, seja dos trabalhadores, dos colhedores, dos animais... Mas apenas um gesto fez a máscara cair. No momento em que ela mais precisou, recebeu a punhalada. Uma que quase a matou.

Escolheu uma roupa bem confortável. Uma blusa de lã bege desbotada com um urso bordado no centro e uma saia de pregas jeans, também já desbotada. Desceu para o jantar.

- Filha, coma, pois já está quase frio.

Havia um prato já posto na mesa. Era lasanha. Sua mãe havia escolhido logo seu prato favorito, parece que tinha adivinhado o tamanho de sua fome. A lasanha estava única.

- Não coma rápido, filha!

- Calma mãe, está tudo sob controle. Disse Joan com a boca cheia.

Todos já haviam jantado e estavam na sala assistindo um programa de comediantes, o favorito do pai dela.

Já havia lavado os pratos, ia escovar os dentes e deitar para...

Trim! Trim!

- Eu atendo. Disse a mãe.

Joan sentiu um frio na espinha. Algo ia acontecer...

- Filha, é pra você.

Joan pegou o telefone bruscamente e foi para uma sala a parte para se sentir a vontade.

- Alô. Disse ela, seca.

- Oi Joan, é muito bom falar com você. Aquele sotaque era inesquecível. Era Ronie.

- Fale logo o que quer. Se for sobre o que aconteceu, não vou te perdoar.

- Eu não estou preocupado com isso. Apenas quero te dar uma notícia.

- O que agora? Vai se casar com ela? Grita Joan, impaciente.

- Não. Melhor. Estou indo pra aí, para a cidade. Cansei de viver aqui na fazenda. Sua mãe disse que havia colocado você em uma ótima escola. Vou para aí, estudar e morar com vocês.

- O que?

- Tu, tu, tu... Ele havia desligado.

Um novo começo 4

Capítulo 4

Passou as ultimas aulas pensando em todas as descobertas que havia feito a respeito de Gui. Ele a intrigava bastante. E Laura também estava perceptível a tudo, ela sabia de toda a história, mas Joan não queria parecer desesperada e resolveu parar de perguntar sobre ele.

Olhou para Laura enquanto desciam as escadas. Ela era uma garota de aparência doce mas amadurecida. Era observadora a princípio e quieta, deu pra perceber que ela não tinha muitos amigos. Se a intenção de Joan fosse ficar popular, com certeza não seria ao lado dela. Mas não pensava nisso naquele momento. Sua intenção com Laura era das melhores. Queria uma amiga e era isso que parecia ter, pelo menos a princípio.

Na sua antiga escola todos se falavam, eram amigos. E os alunos novos eram sempre bem recebidos. Mas não queria pensar no passado. Pois entre essas coisas boas havia fatos a serem esquecidos.

Viu Gui perto da portaria acenando para ela.

Ela responde acenando e se aproxima dele juntamente com Laura.

- Olá Joan, vamos?

- Vamos onde? Ficou intrigada com a abordagem de Gui.

- Não se lembra de quando eu disse que esperaria você?

- Não. Você disse isso quando?

- No pátio, eu disse até depois! Não se lembra?

- Ah! Agora lembro. “mas jamais achei que você me esperaria” disse em pensamento. Mas aonde vamos?

- Vou te levar até em casa. Diz Gui.

- Joan, eu já estou indo. Não quero chegar muito tarde. Até amanhã.

- Tchau. Foi bom te conhecer. Agradece Joan com um sorriso. Obrigada.

- Eu digo o mesmo. Tchau. Diz Laura virando-se e seguindo.

Mesmo com o contratempo que houve no pátio, Joan sentia que Laura era uma boa amiga, em quem se podia confiar. Esperava que seus instintos não tivessem errados.

Ela se virou e foi.

- E o seu irmãozinho, como está? Fala Gui após Laura os deixar a sós.

- Ele está no Jardim de Infância agora. Está bem, Graças a Deus.

- E você está melhor?

- Estou, mas vai demorar um pouco para me adaptar.

- Você se mudou recentemente... Lembrei-me.

- Eu vim do interior do estado.

- Nossa, mas você não tem sotaque algum, parece que nasceu aqui na capital! Fala Gui surpreso.

- Meus pais são da cidade, eles trabalhavam aqui, mas iam para lá no fim de semana.

- Então você ficava sozinha lá? Neste momento eles ajeitam as mochilas e seguem caminho, ainda falando.

- Nada! É uma história longa. Eu tinha vários parentes lá. Nunca estava sozinha. Sempre havia alguém ao meu lado... Neste momento ela fala com certa tristeza. Mas por várias razões eu tive que vir pra cá.

- Gostaria de ouvir estar razões.

- Uma garota me disse que você é tão tímido na escola, porque comigo você não é assim tímido? Desconversa ela.

- Sei lá! Você é diferente.

- Ta me dizendo que eu sou estranha?

- Não! Não é isso não!

- Então é o quê? Ela indaga nervosa.

- Que tal tomar um sorvete? Aproveitou ele, já que passavam em frente à sorveteria.

- Espertinho! Aceito.

Seguiu em direção a sorveteria. A mesma onde havia tomado sorvete com seu irmão Tales.

- Oi! Como vão? Disse a atendente simpática.

- Oi, dois sorvetes, por favor!

- Eu quero de Açaí. Falou Joan.

- Eu quero de morango.

A atendente olhou para os dois e, em seguida, virou-se para pegar os sorvetes.

- E cobertura de quê?

- de chocolate para mim. Falou ela.

- E eu de nozes.

“Pediu o mesmo que o Tales, que coincidência” pensou ela.

- Ele também é seu irmão? Perguntou a atendente do balcão com o mesmo sorriso simpático da última vez em que ela esteve ali. Como se lembrasse dela.

- Não.

-Então ele é seu namorado?

Os dois se entreolharam, ele abaixou a cabeça, com as bochechas avermelhadas e sem ter o que dizer.

- Não! Nós só somos amigos. Ela falou em alto som chamando a atenção de todos.

Todos olharam para eles em silencio pra ver quem estava gritando. Pequenos comentários do tipo “mas até que eles combinam...”, “ela é bonitinha” podiam ser ouvidos no meio do burburinho ali.

Eles saíram da sorveteria cheios de vergonha, cada um com seu sorvete na mão e em silêncio.

- Gui, eu já vou. Minha casa é perto daqui, posso ir sozinha.

- Não! Eu vou contigo até em casa. Disse que te levaria em casa e vou levar. Gui estava feliz, pois viu que aquela Joan chorona havia sumido. Mal a conhecia, mas sentia algo especial próximo a ela.

- Ta, se você quer assim... Consente Joan.

Ele fez como disse que faria, a levou até em casa.

- Eu já cheguei Gui, muito obrigada.

- Eu que agradeço... A esta hora eu estaria em casa sem nada pra fazer...

- Mas Gui, você não está namorando?

Ele ficou em silencio por um minuto.

- Estava... Responde ele com um olhar vago.

- Ah... Respondeu Joan com um olhar baixo. Não sabia se ele estava triste ou feliz por ter terminado, mas no fundo sentia que ele estava aliviado. Será que ele estaria disposto a enfrentar um novo relacionamento? Ah, que pensamento mais besta! Até parece que ele depois de ter aparentemente sofrido tanto tentaria arriscar de novo. Mas no que ela estava pensando? Ela não estava em condições de namorar também, mas parecia que estava melhorando, toda aquela distancia daqueles acontecimentos estava fazendo bem a ela. Conhecer novas pessoas, na verdade, no fundo ela sabia que era Gui que a fazia sentir-se melhor, desde aquele apoio na praça, até ele leva-la em casa como em ele estava fazendo, ali parado, o sol de meio-dia quente, porém gostoso, uma leve brisa em sua pele, o longo rabo de cavalo de Joan sendo jogado de um lado para o outro, crianças brincando nos quintais, isso era perfeito, mas era cedo demais para dizer...

Ele a olha nos olhos

Ela deu um breve sorriso, mas não sabia como cumprimentá-lo. Meio sem jeito aproximou-se do rosto dele o beijou... Na bochecha.

Ele se virou e foi para casa, acenando para ela de longe.

- Até que não foi ruim... Parece que tudo está voltando aos seus eixos... Esqueci de dar o telefone a ele! Diz Joan batendo a porta.

- Ele quem? Entra a mãe de Joan, Alenne, na sala. Aliás, você recebeu ligação.

- Quem ligou? Eu não dei meu telefone a ninguém, a não ser que seja da direção da escola pedindo alguns documentos...

- Não era. Era do interior. O Ronie. Ele quer falar com você.

- O Ronie? Não acredito! Logo agora?!!

Um novo começo 3

Capítulo 3

Mal conhecia Gui e já se sentia interessada em saber o que Laura tinha para dizer! Há tempos Joan não sentia tanto entusiasmo, e não se interessava por ninguém. Havia deixado seu pingente em casa. E com ele, parte de sua alma não estava ali. Estava sentada no pátio de sua escola esperando por Laura, os lanches que ela havia ido compra e as novidades que ela contaria. Mas a notícia de que Gui tinha namorada mexeu com ela, mesmo que fosse só amiga, sentiu uma ponta de ciúmes, mas pensando bem, será que poderia se dizer realmente amiga dele?

O pátio era amplo,com algumas árvores que balançavam com o vento, os canteiros cheio de botões em flor premeditavam e uma primavera florida. Os bancos alvos no qual estava inclusive sentada num deles davam um charme todo especial ao pátio.

Sua alma estava ferida pelo seu passado, sentia-se deprimida e cansada. Alguns casais sentavam-se juntos em vários bancos, onde o vento balançava os longos cabelos das meninas que seguravam a mão de seu parceiro na promessa de nunca solta-lá. Isso já a deixava agoniada. Laura demorava a voltar.

- Laura, como você demorou... Disse Joan enquanto virava-se, já que havia sentido uma mão em seu ombro.

- Laura? Você deve estar me confundindo com outra pessoa... Era Gui com aquele sorriso típico.

- É você de novo?

- Por quê? Algum problema em me ver? Se quiser eu vou embora... Disse Gui em tom de brincadeira.

- Não, pode ficar... Disse ela desanimadamente.

- Porque esta cara? Parecia tão bem hoje cedo...

- Olha... Eu não estou a fim de falar dos meus problemas ok? Se for ficar, fique em silêncio.

- Já estou vendo que você está de mau humor... Dá licença... Gui fala ao mesmo tempo em que se levanta e sai.

- Espere! Joan grita desesperadamente segurando a mão dele. Fique. Desculpe minha grosseria. É que eu fiquei me lembrando de umas coisas que aconteceram e que me deixaram muito chateada. Fique comigo, por favor.

- Ta, eu fico. Mas só se você me contar o que aconteceu. Propõe Gui, querendo matar sua curiosidade.

E como Laura demorava. Parecia que tinha feito de propósito, pensava Joan. Mas não estava disposta a contar nada pra ele e também estava sem paciência para enrolá-lo.

- Não posso dizer.

- Tudo bem. Então vou embora.

Ela novamente segura a mão dele e pede que ele fique. Dessa vez os dois se olham diretamente.

- Dessa vez eu deixo passar, mas na próxima...

- Desculpe-me. Disse ela com lágrimas nos olhos. Fique comigo. Ele sentou-se e abraçou-a. Sentia-se culpada por deixar os seus problemas atrapalhar suas amizades. Tinha que reconstruir a sua vida e deixar as desilusões do passado pra lá. Ela deitou a cabeça em seu ombro e chorou. Joan sentia-se protegida ao estar ali com Gui. Não se preocupava com nada. Parecia que só ele fazia sua tristeza dissipar.

Os dois ficam se olhando e seus rostos se aproximam.

- Joan, a cantina estava lotadíssima, um monte de gente esperando... Laura chega cheia de lanches nas mãos e quase não vê o que está à frente. Joan? O, oi... Ela toma um susto ao ver os dois ali abraçados. Desculpe-me... Eu atrapalhei alguma coisa?

- Claro... Claro que não! Remenda Gui meio sem jeito.

Joan também está vermelha. Os dois logo se levantam.

- Olha que horas são! Grita gui olhando para o relógio. A Helen vai me matar. Deixei-a esperando lá no jornal. Tchau Joan! Tchau Laura! Até depois. Ele deixa as meninas e vai à direção do prédio do colégio.

Laura e Joan sentam-se no banco e começam a devorar o tão demorado lanche. As duas estavam desconcertadas. Laura sabia que não tinha nada com a vida de Joan, afinal, acabara de conhecê-la. Mesmo assim tentava entender a situação fugindo do óbvio, de que eles estariam juntos e pior, com Gui namorando outra pessoa!

- A cantina estava muito lotada Joan, por isso que demorei.

- Que chato né.

- Você é parente do Gui?

- Não. Aliás, conheci-o recentemente, no dia da minha mudança. Porque a pergunta?

- Por nada, é que vocês estavam muito a vontade um com o outro... Aí pensei nesta possibilidade.

- Se quer saber se estamos juntos, não, não estamos juntos. Disse Joan meio irritada.

- Desculpe. Laura logo fica vermelha, sem graça com a grosseria de Joan.

- ... Eu que peço desculpas pela minha resposta ignorante.

- Tudo bem. Mas ele tem andado estranho há uma semana. Ele sempre é tão fechado, mas agora tem falado com todo mundo, até o jornal da escola ficou mais interessante... Mesmo com todos os incômodos...

- Que incômodos? Pergunta Joan curiosa. –Seria a namorada dele?- Se pergunta em pensamento.

- Você logo vai saber...

Toca o sinal do fim do recreio.

Joan se pergunta: - Faz mais ou menos uma semana que eu cheguei e Laura diz que ele está diferente há um a semana... Será que é por minha causa? E que incômodos são esses que ele têm no jornal?

Um novo Começo 2

Capítulo 2


“Ah meu Deus! Já são sete horas! O relógio não despertou e logo no meu primeiro dia de aula vou chegar atrasada! Não podia ser pior.”

Escolheu uma roupa bem formal para o primeiro dia, já que não tinha uniforme. Uma calça jeans meio folgada , uma blusa branca de algodão, tênis preto e um colete de crochê de várias cores porque fazia frio. Resolveu prender o cabelo bem no alto. Arrumou-se no espelho, usou maquiagem discreta para disfarçar o inchaço nos olhos e um batom cor de boca.

Fez umas torradas e um café forte. Ficou lembrando-se da semana anterior, quando haviam chegado de viagem, que havia conhecido um garoto super simpático na praça do bairro. Mesmo voltando ali várias vezes depois do ocorrido, não o reencontrou. Agora que o telefone estava instalado, queria lhe dar o número, para que pudessem conversar com calma. Mas não tirava da cabeça a possibilidade de nunca mais vê-lo. Apesar dele parecer uma pessoa bacana e um bom amigo.

“ Ah sim, era Gui seu 'nome'”

Pegou a mochila e saiu assim que tomou o café.

No caminho ainda passou pela praça onde encontrou Gui. Nos outros dias em que não o encontrou deu várias voltas pela vizinhança para conhecer todo o bairro. De alguma forma, sua tristeza havia se dissipado, não totalmente mas já conseguia sorrir. Ainda não havia passado na área que fica próxima a escola. Colégio Monte Castelo era o nome. Uma escola renomada e particular onde, possivelmente, passaria o resto de seus anos escolares até que fosse para faculdade. Não sabia nem como começar. Não conhecia ninguém, provavelmente todos os grupos da turma já estariam prontos e mesmo sendo muito comunicativa, seria difícil fazer amizade com o pessoal popular.

Finalmente havia chegado. A escola era enorme e haviam poucas pessoas na portaria.

- Com licença, senhor...

- Sim? Um porteiro velho e barbudo a atendeu.

- Eu sou aluna nova e gostaria de saber onde fica a sala 8B.

- 8B? Você já está na oitava série? Parece-me muito novinha! Diz o porteiro zombando dela.

- Ei senhor, já tenho catorze anos se quer saber! Dizia ela fazendo biquinho.

- Pequenininha desse jeito? Duvido. Tá mais pra doze.

- Ora seu...

- Menina, se quer saber alguma coisa, pergunte ao Diretor Adjunto, ele com certeza vai saber te explicar. Além do mais, não posso sair da portaria agora.

- Onde posso encontrá-lo? Pergunta Joan ainda tensa.

- Segue direto neste corredor.

Enquanto ela ajeitava a mochila, apareceu um homem com uma aparência jovem, um bigode bem feito, um terno preto muito bem passado e um olhar acolhedor. “Muito jovem para um diretor, deve ser recém formado. É muito elegante e bonito. Mas pra quê um terno tão fino?”

- Este é o Diretor, menina.

- Sim, sou eu. Ele disse, dando um sorriso acolhedor.

- Esta menina é aluna nova e está procurando a sala dela. O porteiro, novamente intervém.

- Qual a sala?

- Sala 8B. Falou ela.

- É a sala do meu sobrinho. Ele tava todo envolvido com os preparativos da edição do jornal escolar este mês. Será que ele não está por aí para ajudá-la? Eu estou tão ocupado agora. Gostaria de aguardar uns minutinhos na sala de espera?

- Não precisa se preocupar, eu mesmo consigo me achar aqui dentro da escola. Disse ela confiante.

- Pequena desse jeito? Duvido. O porteiro novamente zomba dela.

- Me deixa em paz, seu chato! Ela reclama. Não se preocupe diretor, eu me acho aqui dentro.- Neste momento uma pessoa se aproxima do diretor.

- Tio, Não vai ver os preparativos do jornal para este mês?

- Gui! Finalmente te encontrei! Seu tio exclama de alegria. Você pode me ajudar? Essa menina está precisando de ajuda para encontrar a sala dela que, por coincidência, é a mesma da sua. Leve ela porque agora tenho que resolver outros assuntos.

- Tio, mas... Ele fica sem respostas. Ok pode deixar.

Eles se olham de frente. Joan fica pasmada ao ver que é ele, o Gui, o garoto que a acudiu na praça quando ela se encontrava em prantos. Quase não havia o reconhecido naquele uniforme almofadinha com gravata e tudo. Estava lindo! Todo penteado e olhando-a com as bochechas avermelhadas, porém feliz, com um meio sorriso no canto dos lábios.

Aquele colégio seria diferente de tudo aquilo que ela vivenciou em sua cidadezinha. Naquele local as regras pareciam funcionar. Passou por algumas turmas e viu os alunos, todos sentados, fazendo suas tarefas sem conversar. Em sua antiga escola isso seria impossível, não que lá fosse uma bagunça, mas as regras se faziam na conversa, todos podiam opinar que seriam ouvidos pela direção. O diretor parecia bem parcial, mas a rigidez aparente demonstrava o contrário.

- Oi. Está melhor?

- Sim. Respondeu ela enquanto caminhava, seguindo-o.

- Aquele dia, nem deu tempo da gente conversar...

- Tudo bem, sem problemas... Ela estava tímida por ele tê-la pego chorando da última vez.

- É por aqui.

Subiram uma escada e ainda caminharam por um longo corredor.

- Onde está aquela jóia que você estava usando?

- Deixei em casa.

Andaram mais um pouco em silêncio e chegaram à sala de aula.

- É aqui. Vou avisar ao professor que você chegou.

- Não precisa não, eu mesmo...

Ele segurou seu braço.

- O professor é muito bravo, deixe comigo.

- Tá, se você insiste...

Ele entreabriu a porta e olhou, depois falou alguma palavras com o professor. Em seguida, ele a chamou.

- Entre logo, eu vou ao jornal. Tchau.

- Tchau Gui.

- Hei garota, ande logo para o seu lugar! Está atrapalhando a minha aula!

Joan estava incrivelmente desnorteada, não conseguia nem se mexer tamanho era a vergonha que ela passava.

- Aqui! Uma garota de óculos e cachos loiros falou apontando para uma carteira próxima.

Joan rapidamente sentou-se na carteira e olhou para a loirinha de óculos dando um sorriso de agradecimento.

- Esse professor é sempre assim? Perguntou Joan a loirinha.

- Nada, você precisa vê-lo de mal humor... Cochicha a aluna.

As duas riem.

- Qual é o motivo da graça aí atrás?

- Nenhum professor.

- Então silêncio, principalmente você aluna nova...

Voltaram a fazer as tarefas.

- Qual o seu nome? Pergunta Joan a outra menina.

- Meu nome é Laura. Você é amiga do Gui?

- O conheci estes dias. Mas não posso dizer que sou amiga dele.

- Que pena, ele é muito legal. Se ela não sufocasse tanto ele... Mas que ele e a namorada dele se entendam... Eu não tenho nada haver com isso... – Uma breve faísca sai dos olhos de Laura e um sorriso maroto no canto dos lábios demonstram interesse na história do casal.

- Como assim? Pergunta Joan curiosa. Quer dizer que ele tem namorada?

Neste momento entra Gui na sala e vira-se na direção de Joan sorrindo. Um sorriso semelhante ao de seu tio. Sentou-se sozinho, pegou o caderno e começou a escrever.

- Do que você está falando? Pergunta Joan mais curiosa do que nunca.

Sentindo uma pitada de interesse no ar, Laura diz:

- Hmmm, no intervalo a gente conversa melhor.

Trimmmmmmmm! O sinal do intervalo toca.

Joan ria por dentro. Não via a hora de conhecer melhor as pessoas daquele colégio, que parecia ser bem intrigante.

- Vamos descer, disse Laura.

- Ta. Joan fecha a mochila se levanta e sai.

Um novo começo

Capítulo 1


Encontrou o pingente atrás da cômoda. Não ia sossegar enquanto não o encontrasse.

Na chegada da mudança, a maioria das coisas se perderam, mas aquele pigente não! Nunca! Jamais! Era a lembrança mais preciosa daquela terra. Era uma pena ter deixado a cidadezinha, mesmo assim, não fazia mais sentido continuar ali.

- Joan? Sua mãe disse vestindo um avental azul que havia sido da falecida avó de Joan. O jantar está pronto. Você está trancada aí no quarto desde que chegamos!

- Calma! Já resolvi meu problema. Já estou descendo.

Abriu a porta do quarto e desceu como uma bala.

- Está animada com a mudança filha?

- Não pai, estou com fome mesmo.

- Porque não dá uma volta pela cidade?

Degustando um pedaço de carne assada, ficou pensando. “Se eu for, posso conhecer um pouco esse bairro. Mas ainda tenho muito o que organizar no meu novo quarto.”

- Se for, leve o Tales junto! Ele quer sair.

Abriu um olhar de reprovação. “Eu não vou carregar esse pirralho comigo! E se alguém me ver com ele?”

- Pensando bem, não vou não.

- Não vai só porque eu disse para levar seu irmão! Você vai sim!

- É, eu quero sair. Tales grita.

- Tá bem, já que obrigam...

Terminou o jantar.

- Bem, se vamos, então fique quieto Tales! Senão conto tudo para minha mãe.

- Tá.

Colocou a blusa azul de mangas compridas e a saia rodada no estilo hippie com sandália média. Cabelo solto e seu colar com pingente de cristal, seu favorito.

- Vamos.

Ele pegou a mão dela e sairam pela porta da frente. Era tudo muito diferente. Logo na esquina haviam vária lojas. Todas as ruas eram asfaltadas. Haviam muitos transportes e pessoas.

- Nossa! Tudo isso é ótimo!

- Quero um sorvete. Tales já resmungava.

- De quê? Joan falava, impaciente.

- De morango com cobertura de nozes!

- E precisava perguntar! Esse é seu favorito. Deixe-me pegar o dinheiro.

Seguiram em direção a sorveteria mais próxima. Haviam inúmeros sabores. Muitos até desconhecidos por eles. No local haviam algumas mesas para os clientes saborearem a vontade seus sorvetes, uma ambientação dos anos 50 deixava o local com um charme incomparável.

- O que é açaí? Pergunta Joan , curiosa, para a atendente, uma senhora gorda e muito simpática.

- É um sabor muito gostoso. Vem de uma fruta bastante vitaminada, faz bem para os músculos. É bem natural. Disse a atendente entusiasmada.

- Eu quero um desses com cobertura de chocolate.

- E eu de morango! Com nozes! Disse Tales ,gritando.

- Já vou te atender garotinho.

- Não, ele está comigo. Pode pôr na mesma conta.

- Tudo bem, me desculpe jovem. A atendente preparou os sorvetes e voltou. Por acaso vocês são irmãos?

- É, somos.

- Pois se parecem. Entregou os sorvetes e pegou o dinheiro, conferindo cada moeda.

- Está certo. Voltem sempre!

- Tchau.

- Açaí é bom! Disse Joan ao provar.

Ao caminharem, logo após tomar os sorvetes, encontraram uma aconchegante praça. Era gramada, com um notável playground, muitas madames passeando com seus pudows, crianças brincando numa parte mais iluminada debaixo da vista de seus pais, cautelosos e um chafariz com uma estátua de anjo soprando água.

- Posso brincar no escorrega? Tales dizia, puxando a blusa de Joan.

- Vai e pára de puxar minha roupa. E vê se fica por perto ta?

- Ta Joan.

Ela dava uma breve volta pelo parque, no meio das árvores. “Tudo começou de novo. Terei de fazer novos amigos, freqüentar uma nova escola... parece que tudo que vivi terei que deixar. Em algum lugar.” Olhou para o pingente que custou a achar na bagunça da mudança enquanto uma leve brisa que anunciava a primavera passava balançando os botões de flor, prontos a desabrochar na próxima manhã.

O crepúsculo vespertino ainda fazia uma leve presença no horizonte. A noite caía com toda sua força e todas as suas estrelas estavam presentes. “Foram tantas promessas, tantos sonhos, que pena que tudo acabou, e daquela forma...”

Deixou cair uma lágrima enquanto sentava em um dos bancos da praça. Ali, pranteou até os olhos incharem, sem vergonha do olhar alheio sobre sua dor. Contrastando com toda aquela beleza e alegria daquele lugar.

Nada fazia sentido. Mesmo assim, tentava entender em vão o porquê daquilo tudo.

Levantou-se atordoada pois a hora já avançava.

- Ai! Joan havia esbarrado em alguma coisa.

- Cuidado por onde anda garota! Dizia o garoto em quem Joan havia esbarrado e derrubado.

- Me desculpe. Shhh.

Percebendo seu olhos inchados, o garoto viu que ela havia chorado bastante.

- Aconteceu alguma coisa? Dizia ele se aproximando dela cautelosamente.

- Nada. Joan se descontrola. Deixe-me chorar em paz!

- Me desculpe, nem me apresentei, meu nome é Guilherme mas pode me chamar de Gui. E seu nome é...

- Joan. Ela sussurra. Ainda tensa.

- Nossa, que diferente...

- Diferente o quê?

- O seu nome.

- O que você quer dizer? Que meu nome é feio?

- Não! Ele fica assustado com essa mudança de atitude dela.

- Então?!

- É que eu nunca havia conhecido uma Joan antes. Explica ele, cauteloso ainda.

- Ah.

- Você está melhor agora? Pergunta ele.

- Acho que sim. Ela finalmente ergueu os olhos e reparou como ele era. Ele não era feio. Era de uma beleza comum, latina. Cabelos lisos e negros, olhos castanhos nem claros nem escuros, uma pele morena e lisa e um sorriso natural cheio de vivacidade. A princípio parecia de uma sinceridade peculiar mas havia aprendido a não confiar nas aparências.

- Desculpe incomodar então gata, eu tenho que ir agora. Tem telefone?

- Por enquanto não, acabei de mudar para cá.

- Irmã. Tales aparece. Vamos pra casa?

- É, já está na hora de eu ir também. Num gesto espontâneo e desmedido, ela segura a mão dele com as suas. Obrigada. Diz ela com um olhar doce, um olhar de agradecimento.

- De, de nada. Ele gagueja timidamente e tira a mão dizendo: Tchau Joan, até a próxima. E sai em disparada.

- Vamos para casa Tales, você está com sono? Diz ela pegando-o no colo.

- Sim.

- Até que para quatro anos você não está tão pesado.

- “...” Tales já dormia.